E assim se partiu de Lisboa numa solarenga sexta feira à tarde, para um festival ainda mais solarengo, digamos que arraçado de abrasador, que seria recheado de peripécias e "lócuras" várias... 4 loucos, um calor louco, e um festival muito louco.
Com a ajuda da simpática senhora que estava presa dentro do gps, e após esta nos pedir várias vezes para "sair na saída", bem como apitar freneticamente pelo excesso de velocidade, lá chegámos à fantástica residencial Vila Morena, um ex-libris da hotelaria mundial, caracterizada por requintada estética retro, utilizando o muito em voga estilo kitsch 70s, que lhe conferia toda uma frescura e actualidade que nos deixou deliciados. Era o reposteiro às flores, era o candeeiro cor de laranja, era a alcatifa, era o telefone de discar, era todo um deslumbre. Isto começava bem!
O melhor de tudo quando se chega ao Alentejo... aquele sotaque.... aquela calma.... que saudades que eu tinha do meu querido Alentejo!
Desempacotar as (garrafas), errrr.... a roupa..., e siga para a omelete de queijo da praxe (e claro... carne às toneladas para os restantes, seus carnívoros sem escrúpulos), e o belo do vinho verde geladinho, para ganhar força para os concertos. E porque o grupo era MESMO estranho, um final que se tornaria habitual composto por um café em chávena fria, um café em chávena escaldada, um café cheio, e um café normal.... Pobres empregadas que aturaram tanta parvoíce junta!
E rume-se ao recinto do festival, enquanto se iniciam as investidas ao querido gin tónico, companheiro de aventuras e desventuras e inebriantes odisseias. Já se ouvia GOD ao longe, em grande pujança, e o passo acelerava-se em direcção à bilheteira. Pulseira da praxe, entrada, e um recinto enorme, que faziam as 400 pessoas que lá estavam (corrija-me...), parecer umas 100. Apenas vi a parte final de GOD, mas portaram-se muito bem, como já é costume, com o seu folk/viking metal cada vez mais poderoso e vibrante. Gostei de ver uma flautista ao vivo, um extra muito bem vindo.
Quando à logística, simplesmente fantástica. Não poderei falar em relação ao parque de campismo, mas ambos os palcos eram excelentes, com um palco principal enorme. Lavabos qb, comida e bebida qb, bancas de merchandise, todos os ingredientes que se podem desejar num festival de metal. A organização está de parabéns, porque é certamente uma tarefa hercúlea conseguir erguer um festival assim!
Logo em seguida, Requiem Laus, que deram um grande concerto! O som estava excelente (tal como na maioria das bandas), e já se via muita movimentação no público. Momentos muito técnicos, riffs poderosos, excelente impressão deixada. Boa escolha!
A seguir Concealment. Porra, tinham razão, que grande baixo!

Apenas tinha visto Corpus Christii uma vez, há uns anos no Algarve em Chamas, quando o sr NH ainda assumia as funções de guitarrista. Desde então sairam 2 (3?) grandes álbuns, e a expectativa era alta. Para além do mais estava muito curioso em ver o sr Ângelo como guitarrista da banda. Concerto muito negro, executado competentemente, e que viajou por grandes temas, com o auge em The Fire God. Um grande momento de BM!
Finalmente consegui ver o Bruno/Anasazi (vocalista de Firstborn e venerando moderador deste nosso cantinho) em palco sem que estivesse andar a correr dum lado para o outro, agachado, mergulhado em cabos, stressado e concentrado. Consegui finalmente confirmar que de facto é possível um concerto existir sem que ele se esteja a assegurar que tudo está a funcionar bem em palco! Também não via Firstborn há bastante tempo, e que grande concerto deram. Os novos temas assentaram que nem uma luva, e toda a banda se portou muito muito bem. Foi nesta altura que o rabo desnudado do Grimner se tornou presença demasiado assídua para os olhos de quem estava na segunda fila, pelo que fiz os possíveis para me manter agarrado à grade da frente, e assim só tinha que levar com o cabelo dele! Como se não bastasse, mr Anasazi ainda o homenageia em palco, o que deixou o homem ainda mais louco!
Já tinha ouvido falar muito em Men Eater mas nunca os tinha visto, e agora percebo o porquê do burburinho. Na minha ignorância em relação ao género, fizeram-me lembrar muito uns Mastodon, não soando de todo a cópia destes. Poderoso, atmosférico, intenso e hipnotizante, grande concerto.
Para terminar, Lay Down Rotten. Duvidei da inclusão desta banda como cabeça de cartaz, e imaginava lá muitos possíveis nomes a substitui-los, mas que meteram toda a gente doida lá isso meteram. Eles nem queriam acreditar no público que tinham à frente. O moshpit estava cada vez maior, e deram a sensação de que por eles ficariam lá a noite toda a tocar para o público. Aliás, se houve coisa que este GDL teve foi uma troca de energia brutal entre o público e as bandas. Death metal poderoso era a sobremesa ideal para findar o dia!
O gin já se tinha acabado há algum tempo, entretanto substituido pelo belo do moscatel, e toca a rumar de volta à kitsch-residencial, retemperar forças.
No dia seguinte, um roteiro pelos snack-bares alternativos de grândola, tostas, torradas e baguetes, cheiro a bagaço, futsal, ressaca, dor de cabeça, joelho ferido e ombro com ruptura muscular (não, não fui eu.... adivinhem lá...). 4 rostos a olhar uns para os outros como se no dia anterior tivesse havido uma batalha medieval de corpo a corpo... o sol a amolecer a alma.... o compasso de espera por nova dose de música... aaahhhh, alentejo.... A bela da obrigatória sesta, as forças a re-surgir, e nova investida em direcção ao recinto!
Infelizmente perdi Confront Hate, mas toda a gente me disse que foi BRUTAL. Aguardo outros feedbacks de quem viu.
Quando cheguei estava Ransack na penúltima faixa, e a coisa parecia estar a correr muito bem, com mais público do que no dia anterior, e som muito poderoso a sair das colunas. Grande Shore, grande postura e grande voz!
Em seguida Switchtense. Talvez para mim o melhor concerto de todo o festival. Indescrítivel mesmo. Thrashalhada imparável, guitarras incríveis, voz poderosa, um contentamento claro em estarem ali e, parafraseando o senhor vocalista "uma sensação do CARALHO!". Concerto do caralhão mesmo!
Thanatoschizo estrearam o enorme palco principal. Uma recepção muito menos calorosa por parte do público, principalmente porque até aí todo o festival tinha sido pautado por grande brutalidade em termos sonoros, explorando géneros bem diferentes do de TSO. Seja como for, um grande concerto na minha perspectiva, que sou grande apreciador da banda. Voz masculina mais segura e afinada, voz feminina cada vez mais evoluída, e restante banda impecável.
Este texto já está a ficar demasiadamente longo e o tempo escasseia pelo que vou abreviar o final. Apenas posso dizer que Seven Stitches, Krisiun, Hatesphere e Devildriver também deram concertos brutais, com especial destaque para a recepção que Devildriver tiveram, com um Dez Fafara rendido ao nosso público (e ao nosso vinho!). E como se o moshpit não estivesse já com um tamanho gigante, a pedido do mr Dez, gerou-se um circle pit ENORME, que me deixou com um sorriso enorme na cara. Que cena intensa!
Momentos avulsos de ambas as noites:
- Olhar para o meio de um dos moshpits, e ver lá um tipo sentado numa cadeira de plástico a fazer horns e a bangar. Levou 10 segundos até ser abalroado e cilindrado, mas que teve estilo lá isso teve!
- Abençoadas tostas...
- Grimner, Anasazi, Jó, Shore, Deris, NH, rapaz-que-falou-comigo-durante-concerto-cujo-nick-já-não-recordo-e-que-se-acuse!, Zombie_, Nazgul entre outros - MU a representar
- To be continued... enquanto a memória recupera...