Música Suicida?
Enviado: quarta ago 27, 2008 3:04 pm
Mais um artigo daqueles que já estamos habituados!
Deste tipo já muitos se comentaram. Coloquei este para que também fique registado.
«"Count to six and die", grita o controverso Marilyn Manson, no álbum Holy Wood. E repete, entre outros trechos, "This was never my world / I'd kill myself to make everybody pay". Encontram-se na música, como noutras formas de arte, inúmeras mensagens que evocam o suicídio, mas será que estas o incitam? Quem as ouve tem mais tendência para estados depressivos ou comportamentos de risco? Até que ponto as escolhas musicais indicam que algo não está bem?
"Ninguém comete suicídio, apenas, por ouvir uma música. Mas é possível que, num dado contexto, uma música, como um poema ou uma imagem, possa ser a tal gota que faça transbordar o copo", explica Abílio Oliveira, autor de um extenso trabalho sobre música, morte e suicídio na adolescência, realizado no âmbito de um doutoramento e publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian. "Os resultados mostram existir uma associação entre o maior gosto por música 'pesada' e um aumento dos comportamentos de risco e das ideias de suicídio. Mas não se pode estabelecer uma relação de causalidade. Uma coisa não implica a outra." A música, em si, não pode ser responsabilizada de incitar ao suicídio. "Não é por se falar em suicídio que o vamos suscitar. Uma música que transmita desespero pode até ter um efeito compensador, permitindo ao adolescente verificar que não está só no que sente, reflectir e vivenciar com o músico algo de que ele, no fundo, se quer libertar." Se há necessidade de extravasar, mais vale que seja através da música.
O rock/grunge, punk/rock e pop/rock foram as principais preferências musicais encontradas nesta investigação, que envolveu cerca de 1300 jovens (entre os 15 e os 19 anos). Em geral, os rapazes gostam mais de metal, rock/metal e new metal/punk, estilos genéricos "mais associados a tensão, contestação ou discursos ideológicos". Já as raparigas preferem música mais leve, alegre, emocional, romântica ou dançável, sendo as principais adeptas de pop/português, dance/pop e trip-hop/pop. O gosto por música mais pesada tende a diminuir à medida que se aproximam da idade adulta, refere Abílio Oliveira. Contudo, "quando se prolonga e acentua na fase final da adolescência, como única preferência, pode ser um sinal de alarme".
Os resultados indicam que, quanto maior é o gosto por música rock/grunge, metal e new metal, mais frequentes são os comportamentos auto-agressivos, o desejo de morrer, e eventuais ideias ou tentativas de suicídio.
"O perigo pode espreitar quando se verifica uma tendência para o isolamento e, durante semanas ou meses, só se ouve determinado grupo ou estilo de música, que evoca mal-estar, revolta, imagens de morte e desespero, perdendo-se o interesse por outras actividades", explica o psicólogo social e engenheiro informático, docente no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). "O problema não é a música. Mas a música nessa situação pode ser um sinal de alerta de que aquele jovem não está bem e precisa de ajuda." Um sinal a juntar a outros, como a mudança de comportamentos e a acentuada quebra do rendimento escolar.
No seu livro Ilusões na Idade das Emoções encontram-se ainda outros resultados inquietantes: 40% dos adolescentes inquiridos afirmaram ter tido comportamentos de risco, quase 35% referiram já se ter automutilado ou auto-agredido de alguma forma, cerca de metade já teve ideias de suicídio e perto de 7% fizeram pelo menos uma tentativa de suicídio. "Os comportamentos parassuicidas são cada vez mais frequentes. A nossa sociedade esconde ou mascara a dor e a morte, mas ao mesmo tempo glorifica os mortos famosos (como quase vivos) e aqueles que rompem as normas e desafiam a vida, em busca de novos limites."
A prevenção do suicídio entre os jovens foi este ano consi-derada uma "prioridade política" pelo Conselho da Europa, que defendeu, por unanimidade, mais investigação científica e a abordagem do tema nas escolas. "A música, pelo seu inigualável poder de comunicação, pode ser um meio privilegiado para se chegar ao outro, para se falar sobre a vida e a morte." Pode, afinal, revelar-se como um instrumento de prevenção.»
in http://dn.sapo.pt/2008/08/23/opiniao/mu ... icida.html
Deste tipo já muitos se comentaram. Coloquei este para que também fique registado.
«"Count to six and die", grita o controverso Marilyn Manson, no álbum Holy Wood. E repete, entre outros trechos, "This was never my world / I'd kill myself to make everybody pay". Encontram-se na música, como noutras formas de arte, inúmeras mensagens que evocam o suicídio, mas será que estas o incitam? Quem as ouve tem mais tendência para estados depressivos ou comportamentos de risco? Até que ponto as escolhas musicais indicam que algo não está bem?
"Ninguém comete suicídio, apenas, por ouvir uma música. Mas é possível que, num dado contexto, uma música, como um poema ou uma imagem, possa ser a tal gota que faça transbordar o copo", explica Abílio Oliveira, autor de um extenso trabalho sobre música, morte e suicídio na adolescência, realizado no âmbito de um doutoramento e publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian. "Os resultados mostram existir uma associação entre o maior gosto por música 'pesada' e um aumento dos comportamentos de risco e das ideias de suicídio. Mas não se pode estabelecer uma relação de causalidade. Uma coisa não implica a outra." A música, em si, não pode ser responsabilizada de incitar ao suicídio. "Não é por se falar em suicídio que o vamos suscitar. Uma música que transmita desespero pode até ter um efeito compensador, permitindo ao adolescente verificar que não está só no que sente, reflectir e vivenciar com o músico algo de que ele, no fundo, se quer libertar." Se há necessidade de extravasar, mais vale que seja através da música.
O rock/grunge, punk/rock e pop/rock foram as principais preferências musicais encontradas nesta investigação, que envolveu cerca de 1300 jovens (entre os 15 e os 19 anos). Em geral, os rapazes gostam mais de metal, rock/metal e new metal/punk, estilos genéricos "mais associados a tensão, contestação ou discursos ideológicos". Já as raparigas preferem música mais leve, alegre, emocional, romântica ou dançável, sendo as principais adeptas de pop/português, dance/pop e trip-hop/pop. O gosto por música mais pesada tende a diminuir à medida que se aproximam da idade adulta, refere Abílio Oliveira. Contudo, "quando se prolonga e acentua na fase final da adolescência, como única preferência, pode ser um sinal de alarme".
Os resultados indicam que, quanto maior é o gosto por música rock/grunge, metal e new metal, mais frequentes são os comportamentos auto-agressivos, o desejo de morrer, e eventuais ideias ou tentativas de suicídio.
"O perigo pode espreitar quando se verifica uma tendência para o isolamento e, durante semanas ou meses, só se ouve determinado grupo ou estilo de música, que evoca mal-estar, revolta, imagens de morte e desespero, perdendo-se o interesse por outras actividades", explica o psicólogo social e engenheiro informático, docente no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). "O problema não é a música. Mas a música nessa situação pode ser um sinal de alerta de que aquele jovem não está bem e precisa de ajuda." Um sinal a juntar a outros, como a mudança de comportamentos e a acentuada quebra do rendimento escolar.
No seu livro Ilusões na Idade das Emoções encontram-se ainda outros resultados inquietantes: 40% dos adolescentes inquiridos afirmaram ter tido comportamentos de risco, quase 35% referiram já se ter automutilado ou auto-agredido de alguma forma, cerca de metade já teve ideias de suicídio e perto de 7% fizeram pelo menos uma tentativa de suicídio. "Os comportamentos parassuicidas são cada vez mais frequentes. A nossa sociedade esconde ou mascara a dor e a morte, mas ao mesmo tempo glorifica os mortos famosos (como quase vivos) e aqueles que rompem as normas e desafiam a vida, em busca de novos limites."
A prevenção do suicídio entre os jovens foi este ano consi-derada uma "prioridade política" pelo Conselho da Europa, que defendeu, por unanimidade, mais investigação científica e a abordagem do tema nas escolas. "A música, pelo seu inigualável poder de comunicação, pode ser um meio privilegiado para se chegar ao outro, para se falar sobre a vida e a morte." Pode, afinal, revelar-se como um instrumento de prevenção.»
in http://dn.sapo.pt/2008/08/23/opiniao/mu ... icida.html