Fado

[Lapeno Enriquez]

Deolinda, A Naifa, Amália.


Gosto.

[Nevoeiro]

Quase que faz alergia. Detesto.

[Almah Perditae]

Penso que há muito a dizer sobre o fado, e eu, na minha vida profissional, já trabalhei com muitos fadistas, músicos e projectos, que muito me contaram sobre o que é o fado, o que foi, e o que será.
No século XIX o fado era cantado nos salões nobres de Lisboa, para a burguesia (não só nos bordéis de 3ª categoria), e era acompanhado ao piano, e não à guitarra. Mas deixo a história um pouco para o lado.
Hoje em dia, quase que se pode dizer que há várias vertentes do fado, e passa-se um pouco o que se passa com o metal, pois uns são apelidados de "untrues" e blasfemos por não seguirem a tradição. Mas qual tradição? Acho que hoje em dia não se vê fado ao piano, por exemplo.

Mesmo para os mais duros de ouvido para com o fado, experimentem ouvir Donna Maria ou Deolinda, que são fado, mas com nova roupagem, os Deolinda mesmo sem guitarra portuguesa, e com uma temática não tão depressiva ou negra. Quando vieram cá à Fnac do Algarve, uma senhora que se encontrava lá na altura do checksound, virou-se para a vocalista e disse "ah, vocês são aqueles do 'escarra pró lado', deviam ter vergonha". Alguns "fadistas" old school que conheço, dizem o mesmo em relação a alguns projectos novos que usam o fado, e principalmente dos que se entitulam mesmo fado. Por isso separei Deolinda e Donna Maria. Em relação a A Naifa, não acho que sejam fado, apesar do uso da guitarra portuguesa, tal como não acho que Carlos Paredes tenha feito muito fado. Mas é engraçado, que um projecto que bebe muito a Carlos Paredes, M-Pex, que mistura a guitarra portuguesa com música electrónica, acabe em certos momentos por soar muito a fado. Por outro lado, o Edu Miranda, que colaborou com o António Cheinho (tal como o Tuniko Goulart, que toca com o Edu Miranda), teve a ousadia de misturar o fado com o chorinho brasileiro e a bossa nova. Também não usa guitarra portuguesa, mas há poucos a tocar bandolim como ele. Aqui no Algarve há certas coisas inovadoras também, embora, se num caso, haja qualidade, Pedro Frias Band, no outro, falta a capacidade de execução para algumas excelentes ideias que têm, Al Mouraria. O primeiro projecto anda um pouco pela música do mundo, e têm alguns temas em que a forma como inserem o fado na música tradicional portuguesa é absolutamente maravilhosa, mais uma vez sem guitarra portuguesa, mas com guitarras clássicas, braguesa, bandolim e acordeão. Os Al Mouraria usam o acordeão e o saxofone, sendo que acabam por estragar tudo quando resolvem pegar na guitarra portuguesa.

Depois há os mesmo fadistas de sempre, e os mesmos músicos acompanhantes de sempre (já tive alguns showcases de fadistas "tradicionais" em que os músicos acompanhantes eram sempre os mesmos - nem me espanta nada). E aqui acho que é onde o fado sofre um pouco do mesmo mal do jazz...parece que 90% do fado se baseia sempre nos mesmos "standards" a nível instrumental, e só mudam as vozes. E até certo ponto, já chateia. Mata-se a creatividade, estão presos aos clássicos, e criticam quem ousa inovar ou fazer coisas novas. E depois apenas se sentem renascidos quando aparecem vozes fora do vulgar ( Mariza, Raquel Tavares, etc ), pois o resto acaba por ser um vira o disco e toca o mesmo. Para vos dar um exemplo, tive um fadista na Fnac, já há uns 2 anos, que chegou lá, ainda não tinham chegado os músicos, e ele disse-me que os músicos que tocam com ele não podiam ir, e que iam outros que nem o disco dele tinham ainda ouvido. Quando eles chegaram, eles perguntaram-lhe o que era para tocar, e ele disse quais eram os fados, e um deles responde "ah, tudo bem, ainda ontem toquei 3 desses".

Se tiverem algum interesse em saber algo mais sobre qualquer das bandas de que falei, sabendo que há muito mais coisas interessantes e novas, basta googlar...há bastantes vídeos no youtube e páginas de myspace. Agora, não cometam o erro de ligar o fado à guitarra portuguesa, tanto o fado é mais que isso, como é injusto limitar a guitarra portuguesa ao fado.

Quem sabe sabe

Diz-me uma coisa se faz favor. Aqui há uns meses (largos, mais de um ano) emprestaram-me um CD de uma banda salvo erro tambem do Algarve que mistura fado com algo tipo trip hop. Salvo erro a banda chama-se Rosa Negra. Conheces isso?

Edit: Estive a pesquisar na net, limpar a poeira da memória, e apesar da dificuldade ainda encontrei um video... Err... Trip-hop? Quão limitada estava a minha memória... lol Conheces estes gajos? Tambem são do Algarve não são?

[meninobesta]

se o fado tivesse bateria, guitarras com distorção e baixo ... era doom, e mesmo assim não gostava!

não é estilo que me puxe, se bem que um bom faduncho popular ao som de uns couratos e sardinha até marcha... agora coisas eruditas e tal ... nhec!

[IgnotoDeo [RIP 2009/06/27]]

No século XIX o fado era cantado nos salões nobres de Lisboa, para a burguesia (não só nos bordéis de 3ª categoria), e era acompanhado ao piano, e não à guitarra.

E não só o fado. No século XIX estiveram muito em voga as modinhas luso-brasileiras que têm muita influência da bossanova, já aqui referida. Se as ouvirem, parece música popular. E no entanto era música para os Serões musicais da gente rica (alguns salões tinham inclusive dois pianos, a tocar ao mesmo tempo, a acompanhar vozes ou qualquer outro instrumento).

De qualquer das formas, gosto muito do fado, o verdadeiro e triste. Também gosto do fado à desgarrada, sem dúvida.
Não gosto desta moda da Mariza berrona, sem qualquer expressão e emotividade. Fado, acima de voz, é sentimento. Já vi vozes banais a arrepiarem-me e vozes virtuosas a deixarem-me com vontade de lhes bater com a cabeça na parede. Ouvi e ouço muita Amália e muita Mafalda Arnauth. Acho piada à Ana Moura e à Raquel Tavares mas ainda lhes falta caminho (pelo menos é o que sinto).
Sempre ouvi o meu avô a trautear Alfredo Marceneiro de um lado para o outro desde que me lembro de ser gente. A minha mãe cantava fado quando era mais nova. A minha bisavó era apaixonada pela guitarra portuguesa, segundo consta. Era impossível não ficar também com o bichinho.
Mas tal como alguém também já disse, compreender o fado não é fácil. Aliás, eu diria que o mais difícil é compreender as emoções que o fado transmite.
Mas pronto, são opiniões

[Nhec]

se o fado tivesse bateria, guitarras com distorção e baixo ... era doom, e mesmo assim não gostava!

não é estilo que me puxe, se bem que um bom faduncho popular ao som de uns couratos e sardinha até marcha... agora coisas eruditas e tal ... nhec!

W A T

[BKD.]

Diz-me uma coisa se faz favor. Aqui há uns meses (largos, mais de um ano) emprestaram-me um CD de uma banda salvo erro tambem do Algarve que mistura fado com algo tipo trip hop. Salvo erro a banda chama-se Rosa Negra. Conheces isso?

Edit: Estive a pesquisar na net, limpar a poeira da memória, e apesar da dificuldade ainda encontrei um video... Err... Trip-hop? Quão limitada estava a minha memória... lol Conheces estes gajos? Tambem são do Algarve não são?

Por lapso meu não referi os Rosa Negra, claro que conheço, tenho lá 1 conhecido a tocar, e já fizeram showcase aqui. É mais um fado-fusão com algum interesse. Eles assumem-se como fado, mas para além de não terem guitarra portuguesa, não têm guitarras nenhumas. Têm o grande Sherif na percussão, acordeão, teclas, violinos, o meu conhecido no trompete e a vocalista ( penso que só estes dois últimos são do Algarve ). Alguns dos elementos de Rosa Negra também tocam com as Xaile, mas isso já pouco ou nada tem de fado.

Esqueci-me de referir, que também gosto de fado tradicional, à desgarrada, fado vadio, e afins, o que eu critico no fado, é aquela mentalidade de Trve Kvlt e da falta de creatividade, em que levam a vida toda a tocar e cantar fados standard e ficam-se por aí.

[morbidcorpse]

nao gosto.

[vanser]

bom... um fado na altura certa até sabe bem ...agora... nao faz parte do genero em que oiça em qualquer altura ou assim..respeito, mas nao é dos generos que mais aprecie
=)

[coragem]

eu prefiro cantares alentejanos

[Almah Perditae]

Por lapso meu não referi os Rosa Negra, claro que conheço, tenho lá 1 conhecido a tocar, e já fizeram showcase aqui. É mais um fado-fusão com algum interesse. Eles assumem-se como fado, mas para além de não terem guitarra portuguesa, não têm guitarras nenhumas. Têm o grande Sherif na percussão, acordeão, teclas, violinos, o meu conhecido no trompete e a vocalista ( penso que só estes dois últimos são do Algarve ). Alguns dos elementos de Rosa Negra também tocam com as Xaile, mas isso já pouco ou nada tem de fado.

Esqueci-me de referir, que também gosto de fado tradicional, à desgarrada, fado vadio, e afins, o que eu critico no fado, é aquela mentalidade de Trve Kvlt e da falta de creatividade, em que levam a vida toda a tocar e cantar fados standard e ficam-se por aí.

Concordo contigo. Não só no fado, mas em tudo, manter as coisas estagnadas por causa da "tradição" é o mesmo que matar isso. Quer seja na música ou em qualquer coisa na vida.

Estes Rosa Negra são algo de bastante interessante. Deixo aqui o vídeo, deleitem-se



EDIT: Isto agora anda na moda... Parece que afinal esta música dos Rosa Negra foi plagiada duma turca ou o raio... Depois do Tony Carreira os Rosa Negra... (Sem esquecer a banda-mor nacional a plagiar, os Clã) lol Mas já ninguem sabe escrever músicas? Dass....

[spiegelman]

Gosto imenso de fado. A minha fadista favorita é a Mafalda Arnauth. Fui vê-la ao Coliseu e deu um espectáculo intenso e intimista.

Puro Fado. Fez uma versão da La Boheme de arrepiar a espinha e é talvez das melhores interpretes dos fados da Amália que já ouvi.

Mas para mim o fado não é um simples estilo musical. É a representação estética do ser-se e sentir-se a portugalidade dada mum ponto de vista estético e existencial. Quem quiser e tiver paciência pode ir aqui ler a minha visão acerca do fado:
http://terrorontologico.blogspot.com/20 ... ueses.html

[Nevoeiro]

eu prefiro cantares alentejanos

Isso sim é uber trve!

[IgnotoDeo [RIP 2009/06/27]]

Puro Fado. Fez uma versão da La Boheme de arrepiar a espinha e é talvez das melhores interpretes dos fados da Amália que já ouvi.

Sim, a versão da música do Aznavour é simplesmente deliciosa
A Mafalda é, com toda a certeza, das fadistas mais talentosas da actualidade. Qualquer música, por ela, arrepia

[Sassequece]

Tenho pena de não apreciar fado da mesma forma que aprecio tango ou flamenco.
No entanto, há uma voz no fado que me deixa completamente rendido: Carlos do Carmo.