Política - Discussão ou algo do género.

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor OrDoS » terça fev 14, 2012 11:34 am

Audiokollaps Escreveu:Ordos, o Grimmer basicamente já disse tudo, mas eu acrescento:

Porque há-de o povo de um país (seja ele qual for) ser responsabilizado e castigado por um monstro criado por uma elite política e financeira?
A Grécia tem problemas? Tem, isso é óbvio. Corrupção, salários elevados, subsidios a mais, pouca eficácia fiscal, etc...

Mas o que representam esses problemas comparados com o camuflar do real estado das suas finanças durante anos, numa promiscuidade entre classe politica e a americana Goldman -Sachs e outras instituições financeiras.

Desde 1985 até aos dias de hoje, politicos gregos e executivos da finança mundial criaram uma imagem das finanças gregas que não existe, essa manipulação e engano levou a quê? Ao estado em que o país está hoje.

Quem são os gestores responsáveis por resolver os problemas da Grécia? Os mesmos que durante anos enganaram todo mundo e a União Europeia (Será que a UE foi mesmo enganada?)

Quem são os principais beneficiados e quem mais vai ganhar com esta politica suicidária na Grécia? As mesmas instituições que criaram o monstro (Goldman-sachs por ex.)

Dando um exemplo:

- Quando uma instituição/empresa, que faz parte de um grupo económico e segue linhas orientadoras desse mesmo grupo, segue uma linha de gestão suicidária e entra numa situação insustentável, devem ser os trabalhadores a arcar com os custos de salvamento da empresa e com as respectivas dividas, ou deve ser o próprio grupo económico a resolver os problemas, salvaguardando os trabalhadores?

É só um exemplo... as diferentes respostas reflectirão a posição ideológica de cada um.


Se a culpa fosse inteiramente da UE, não. Mas e se foram os trabalhadores a eleger as pessoas que fizeram a merda, também ficam totalmente isentos da responsabilidades? Não foram eles que cometeram as ilegalidades, mas elegeram-nos.

Num mundo "normal", um trabalhador que se sinta enganado, em condições normais, muda de empresa (ou seja, neste cenário, emigra). O problema é que cenários há muitos por onde seguir, seja refazer a base, seja tentar emendar com reformas (superficiais ou profundas), umas mais eficazes que outras, de preferência com apoio dos trabalhadores (o que no caso de refazer um Governo e mudar um Estado, não cabe bem aos trabalhadores/eleitores).

Já agora e apenas porque desconheço, há alguém que se tenha proposto em chegar à frente com medidas que mudem completamente o panorama Grego? E já agora, propostas que possam conseguir desmanchar o actual Governo e o seu gigante sistema carregado de Funcionários públicos, sem fazer estalar uma guerra civil? Noto que a extrema-esquerda já tem quase 50% do eleitorado do lado deles, mas têm eles propostas sérias para mudar o aparelho?
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor OrDoS » terça fev 14, 2012 1:17 pm

Audiokollaps Escreveu:Nem a propósito:

Que nos diz a Grécia?

A própria realidade dos factos encarregou-se de demonstrar que o ódio popular à troika contamina todos aqueles que a ela se submetem.

1. A União Europeia obrigou a Grécia ao enésimo plano de austeridade, plano que as autoridades monetárias e os gurus dos mercados de capitais, vide Finantial Times, Bloomberg, etc., fazem saber que é inútil para a especulação e incapaz de baixar a pressão sobre a dívida soberana grega. A bancarrota é uma pena suspensa.

2. O parlamento helénico decidiu sob chantagem numa clara violação dos tratados europeus e até do tratado que os governos UE ainda querem aprovar, na modalidade intergovernamental a 25 ,no que cuida ao "governo económico".

3. O que está no banco dos réus de qualquer justiça internacional é essa miserável humilhação da democracia grega transformando o parlamento no notário dos "novos coronéis". A tragédia de um povo conduzido à precariedade completa e à indeterminação sobre o seu futuro. Não falem de cocktails-molotov quando há um país ocupado politicamente.

4. O plano do Merkosy não corresponde a nenhuma pulsão ideológica extrema, como se argumenta amiúde, mas ao invés de ser uma subjetividade política mais ou menos alterável trata-se do programa de ajustamento conservador pretendido pelo capital financeiro e pelas mais fortes burguesias europeias. A selvajaria de mercado visa o darwinismo bancário(consolidar e concentrar), a asiatização da mão de obra, a competição com o Pacífico. Tudo isto com autoritarismo crescente e apelos ao chauvinismo e mão dura.

5. Todos os governos são, até agora, sugados para este vórtice, incluindo o governo comunista de Chipre, um dos 27, sujeito a um programa de austeridade severo. Afinal, não muito longe do início do percurso austeritário dos seus irmãos de Atenas, apesar da base política que sustenta o executivo ser bem diversa.

6. A exclusão do euro, ou outro tipo de sanções coloniais, são encaradas como danos colaterais, que ao contrário do que muitos economistas previdentes dizem, pode muito bem acontecer pesem situações de contágio de banca internacional exposta a dívidas públicas e privadas incobráveis. A luta de classes e a rearrumação social na Europa que os conservadores preconizam não se detém em critérios de racionalidade, como muito bem se sabe.

7. A luta de massas sucessiva e a atenção internacional cindiram o PASOK (partido socialista). PASOK responsável pelo primeiro e seguintes acordos com a troika, incluindo este segundo resgate. Todos os partidos do arco troikista têm importantes baixas, com dezenas de expulsões de deputados rebeldes. Na extrema-direita, direita e também nos socialistas. Tudo isto com eleições esperadas para Abril próximo. A própria realidade dos factos encarregou-se de demonstrar que o ódio popular à troika contamina todos aqueles que a ela se submetem.

8. A cisão do PASOK, Esquerda Democrática, que junta também um grupo procedente da SYRIZA, tem hoje o dobro nas sondagens que o próprio PASOK. O Partido Comunista e a SYRIZA (coligação de esquerda radical) exibem expectativas acima de 10% cada um. No total, as três formações creditam-se acima de 40% nestas pesquisas. São o ativo de esperança do povo desesperado da Grécia, e com reais possibilidades de procurar a alternativa à capitulação do poder da praça Sintagma.

9. Uma eventual convergência de programa poderia ser eficaz na rutura com a troika. É o ponto de unidade, já que ali ninguém tentou "desculpar" o partido socialista por ter assinado o memorando da troika. As tradições sectárias da esquerda grega não animam essa perspetiva, mas a situação é excecional e a pressão da massa pode fazer milagres. Uma convergência de programa antitroika não quer dizer, à partida, coligações de qualquer género por ventura deslocadas ou impraticáveis. Mas seria o Manifesto de uma libertação do regime dos credores com uma maioria social e política. Esse facto seria portentoso em toda a Europa e com larga significação. Sobretudo porque o espaço popular parte o centro com a força da esquerda. Ao contrário daqueles que acham que a esquerda se deve adaptar ao centro liberal.

10. Tudo isto indica, quer o agravamento da situação social, quer a mudança política em aberto, a obrigação das esquerdas europeias não apenas de solidariedade mas, sobretudo, a necessária radicalização contra o Tratado da ordem e a direção conservadora. Ficar à espera de Hollande é a atitude típica de todos os que ficam à espera do Obama do momento. O agravamento das contradições no quadro europeu pode ter um detonador grego para ações populares muito marcantes. Essas é que são agentes da mudança, chamamo-las para referendo, o rosto do nosso NÃO só pode ser outra Europa.

11. Em Portugal, ver a lição grega, sem mecanicismos é certo, é ver quase tudo.

Luis Fazenda


A situação da Grécia/Portugal/Irlanda/Espanha/Itália/etc, não casos particulares, pontuais.

Há algo maior que todos esses países, uma estratégia com um objectivo maior do que a "salvação" de qualquer um desses países.


Independentemente de existir um propósito e uma agenda escondida, não podemos esconder que esta é a altura de começar a resolver os problemas estruturais dos nossos países, seja com a esquerda, o centro ou a direita. Nenhuma destas facções pode continuar a ser despesista como tem vindo a ser, seja para com o povo ou para com os empresários ou para com o seu aparelho. É preciso também incutir nas pessoas a noção de que o Estado não é o pai nem a mãe deles, é uma máquina que pode e deve servir os interesses do povo, sendo justo para quem trabalha ou para quem não pode, tem de deixar de fazer festinhas aquelas pessoas que passam a vida paradas só porque não têm aquele emprego que idealizavam (mas promover medidas para que também tenham condições de um dia o conseguirem) e, agora vou dar uma de JP, blá blá blá, etc e tal, tudo o que já falamos por aqui.

Ou nos mexemos, ou morremos. É bom, pelo menos, ver que a mente das pessoas começa a ser mais aberta à mudança e ainda mais ao empreendedorismo, é óptimo ver a promoção de boas ideias, de ler (cada vez mais) rúbricas nas revistas e nas rádios sobre empresas que funcionam, sobre novos métodos de trabalho, sobretudo sobre MUDANÇA de mentalidades e de movimentos! Acho que este é o ponto mais positivo desta crise, para nós Portugal. Acho que com este abrir de olhos as gerações actuais e futuras vão estar mais preparadas para encarar o futuro e saber lutar pelos seus direitos.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » terça fev 14, 2012 1:54 pm

OrDoS Escreveu:
Audiokollaps Escreveu:Ordos, o Grimmer basicamente já disse tudo, mas eu acrescento:

Porque há-de o povo de um país (seja ele qual for) ser responsabilizado e castigado por um monstro criado por uma elite política e financeira?
A Grécia tem problemas? Tem, isso é óbvio. Corrupção, salários elevados, subsidios a mais, pouca eficácia fiscal, etc...

Mas o que representam esses problemas comparados com o camuflar do real estado das suas finanças durante anos, numa promiscuidade entre classe politica e a americana Goldman -Sachs e outras instituições financeiras.

Desde 1985 até aos dias de hoje, politicos gregos e executivos da finança mundial criaram uma imagem das finanças gregas que não existe, essa manipulação e engano levou a quê? Ao estado em que o país está hoje.

Quem são os gestores responsáveis por resolver os problemas da Grécia? Os mesmos que durante anos enganaram todo mundo e a União Europeia (Será que a UE foi mesmo enganada?)

Quem são os principais beneficiados e quem mais vai ganhar com esta politica suicidária na Grécia? As mesmas instituições que criaram o monstro (Goldman-sachs por ex.)

Dando um exemplo:

- Quando uma instituição/empresa, que faz parte de um grupo económico e segue linhas orientadoras desse mesmo grupo, segue uma linha de gestão suicidária e entra numa situação insustentável, devem ser os trabalhadores a arcar com os custos de salvamento da empresa e com as respectivas dividas, ou deve ser o próprio grupo económico a resolver os problemas, salvaguardando os trabalhadores?

É só um exemplo... as diferentes respostas reflectirão a posição ideológica de cada um.


Se a culpa fosse inteiramente da UE, não. Mas e se foram os trabalhadores a eleger as pessoas que fizeram a merda, também ficam totalmente isentos da responsabilidades? Não foram eles que cometeram as ilegalidades, mas elegeram-nos.

Num mundo "normal", um trabalhador que se sinta enganado, em condições normais, muda de empresa (ou seja, neste cenário, emigra). O problema é que cenários há muitos por onde seguir, seja refazer a base, seja tentar emendar com reformas (superficiais ou profundas), umas mais eficazes que outras, de preferência com apoio dos trabalhadores (o que no caso de refazer um Governo e mudar um Estado, não cabe bem aos trabalhadores/eleitores).

Já agora e apenas porque desconheço, há alguém que se tenha proposto em chegar à frente com medidas que mudem completamente o panorama Grego? E já agora, propostas que possam conseguir desmanchar o actual Governo e o seu gigante sistema carregado de Funcionários públicos, sem fazer estalar uma guerra civil? Noto que a extrema-esquerda já tem quase 50% do eleitorado do lado deles, mas têm eles propostas sérias para mudar o aparelho?



Não discordo, Ordos, mas é por isso que já quando foi aquela questão da petição para a demissão do presidente defendi que, apesar de mal redigida, a ideia é boa e deve estimular algum pensamento nas pessoas. Há uma despolitização cada vez maior na democracia representativa que tende a desresponsabolizar ambas as partes. As pessoas formatam-se à ideia de que a democracia se exerce "de 4 em 4 anos" com o voto, e criam paralelamente a concepção de que a sua participação se esgota aí. O que obviamente dá uma liberdade excessiva aos políticos, que, não "vigiados", são agentes de políticas ruinosas, por premeditação ou por mera incúria ou incompetência. Daí a importância e envolvimento que eu dou e tenho com movimentos sociais, como o da auditoria cidadã que, tendo nas suas fileiras gente da esfera política, são iniciativas de cidadania em que o meu peso não é menor que o da Ana Benavente, ainda que ela já tenha sido secretária de estado e eu não. Não se está como membro de partido, está-se como cidadão. E como cidadão político. Aquilo que apontas, e bem, é a necessidade de uma "revolução de mentalidades" em que a política seja verdadeiramente participativa. A petição da demissão do presidente terá porventura sido um caso mal pensado na execução, mas a adesão que teve mostra que há interesse. E há outras questões e movimentos sérios a serem feitos. A ILC ( iniciativa de lei cidadã) criada pelos Precários Inflexíveis, por exemplo, que são o segundo caso na história que uma lei que conta com o apoio de 37mil assinaturas vai a parlamento para ser discutida. Diria que isto é inquestionavelmente empreendedorismo da nossa parte, enquanto cidadãos. Aliás, posso acrescentar que há um interesse e uma curiosidade muito fortes, a nível internacional, pelos movimentos sociais que se têm gerado por cá. Têm ainda muitas falhas, e muitas divergências, mas têm demonstrado que conseguem ter algum poder e levar esse poder de baixo para cima.

Essencialmente há duas máximas que deveriam ser eternas. Uma é de Platão: "O preço de não te envolveres na política é o risco de seres governado por gente pior que tu". Ele, há 2500 anos, previu claramente o Álvaro Santos Pereira. A outra é do Thomas Jefferson: " O preço da liberdade é eterna vigilância". Neste momento e nesta crise até o cito duas vezes e acrescento que "As instituições bancárias são mais perigosas que forças armadas", mas esta última é mais específica à nossa realidade corrente.

Qualquer caminho político a longo prazo numa democracia tem a meu ver de passar por esta ressalva de participação activa e de equilibrio dos poderes. Usando um exemplo muito extremo, Hitler fez o que fez, e no entanto foi inequivocamente eleito democraticamente. Em algum ponto numa sociedade em que a democracia conte se deve poder dizer "estes senhores não nos representam, fora". No nosso caso, considero justo dizê-lo de um governo que governa em completo sentido contrário ao seu programa e às promessas que fez aos seus eleitores.

Quanto às alternativas na Grécia, francamente não te sei dizer ou reproduzir que tipo de discurso tomam. Sei que a crítica à dívida é dura e sei que há interesse e estudo no que se passa na América do Sul. Mais que isso, não sei, muito francamente. E digo-o com algum receio, porque o grande mal da esquerda é o de se fraccionar com muita ( demasiada) facilidade. A extrema direita é demasiado homogénea porque pensam de menos, a esquerda pensa demais e raramente se une com sucesso. O processo de auditoria grego partiu da esquerda deles, mas não te saberei dizer em concreto o que irão fazer se tiverem o poder. Ou se neste momento o conseguem fazer sem que lhes caia a Alemanha em cima e em força.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Cthulhu_Dawn » terça fev 14, 2012 2:06 pm

O processo de auditoria grego partiu da esquerda deles, mas não te saberei dizer em concreto o que irão fazer se tiverem o poder. Ou se neste momento o conseguem fazer sem que lhes caia a Alemanha em cima e em força.


Já não falta muito para Abril...

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » terça fev 14, 2012 2:42 pm

Cthulhu_Dawn Escreveu:
O processo de auditoria grego partiu da esquerda deles, mas não te saberei dizer em concreto o que irão fazer se tiverem o poder. Ou se neste momento o conseguem fazer sem que lhes caia a Alemanha em cima e em força.


Já não falta muito para Abril...



Pois não. Mas convém lembrar que o clima por lá agora não é dos mais democráticos. A expulsão dos deputados foi francamente chocante e indicativa. E de notar que este governo é tecnocrático com mandato da CE. As eleições gregas eram supostamente para Fevereiro, próximo dia 19, para ser mais preciso, e já foram adiadas, vagamente, para Abril. A troika não vai permitir um governo anti austeridade, isso é certo, e não estão lá muito ralados com democracias e pieguices semelhantes...
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor OrDoS » terça fev 14, 2012 2:55 pm

Grimner Escreveu: Não discordo, Ordos, mas é por isso que já quando foi aquela questão da petição para a demissão do presidente defendi que, apesar de mal redigida, a ideia é boa e deve estimular algum pensamento nas pessoas. Há uma despolitização cada vez maior na democracia representativa que tende a desresponsabolizar ambas as partes. As pessoas formatam-se à ideia de que a democracia se exerce "de 4 em 4 anos" com o voto, e criam paralelamente a concepção de que a sua participação se esgota aí. O que obviamente dá uma liberdade excessiva aos políticos, que, não "vigiados", são agentes de políticas ruinosas, por premeditação ou por mera incúria ou incompetência. Daí a importância e envolvimento que eu dou e tenho com movimentos sociais, como o da auditoria cidadã que, tendo nas suas fileiras gente da esfera política, são iniciativas de cidadania em que o meu peso não é menor que o da Ana Benavente, ainda que ela já tenha sido secretária de estado e eu não. Não se está como membro de partido, está-se como cidadão. E como cidadão político. Aquilo que apontas, e bem, é a necessidade de uma "revolução de mentalidades" em que a política seja verdadeiramente participativa. A petição da demissão do presidente terá porventura sido um caso mal pensado na execução, mas a adesão que teve mostra que há interesse. E há outras questões e movimentos sérios a serem feitos. A ILC ( iniciativa de lei cidadã) criada pelos Precários Inflexíveis, por exemplo, que são o segundo caso na história que uma lei que conta com o apoio de 37mil assinaturas vai a parlamento para ser discutida. Diria que isto é inquestionavelmente empreendedorismo da nossa parte, enquanto cidadãos. Aliás, posso acrescentar que há um interesse e uma curiosidade muito fortes, a nível internacional, pelos movimentos sociais que se têm gerado por cá. Têm ainda muitas falhas, e muitas divergências, mas têm demonstrado que conseguem ter algum poder e levar esse poder de baixo para cima.

Essencialmente há duas máximas que deveriam ser eternas. Uma é de Platão: "O preço de não te envolveres na política é o risco de seres governado por gente pior que tu". Ele, há 2500 anos, previu claramente o Álvaro Santos Pereira. A outra é do Thomas Jefferson: " O preço da liberdade é eterna vigilância". Neste momento e nesta crise até o cito duas vezes e acrescento que "As instituições bancárias são mais perigosas que forças armadas", mas esta última é mais específica à nossa realidade corrente.

Qualquer caminho político a longo prazo numa democracia tem a meu ver de passar por esta ressalva de participação activa e de equilibrio dos poderes. Usando um exemplo muito extremo, Hitler fez o que fez, e no entanto foi inequivocamente eleito democraticamente. Em algum ponto numa sociedade em que a democracia conte se deve poder dizer "estes senhores não nos representam, fora". No nosso caso, considero justo dizê-lo de um governo que governa em completo sentido contrário ao seu programa e às promessas que fez aos seus eleitores.

Quanto às alternativas na Grécia, francamente não te sei dizer ou reproduzir que tipo de discurso tomam. Sei que a crítica à dívida é dura e sei que há interesse e estudo no que se passa na América do Sul. Mais que isso, não sei, muito francamente. E digo-o com algum receio, porque o grande mal da esquerda é o de se fraccionar com muita ( demasiada) facilidade. A extrema direita é demasiado homogénea porque pensam de menos, a esquerda pensa demais e raramente se une com sucesso. O processo de auditoria grego partiu da esquerda deles, mas não te saberei dizer em concreto o que irão fazer se tiverem o poder. Ou se neste momento o conseguem fazer sem que lhes caia a Alemanha em cima e em força.


Aproveito para acrescentar esta frase, dita pelo Martin Luther King e realçada pelo Buffet, que se devia aplicar a políticos que se fartam de fazer merda, os ajudam a livrar-se das falcatruas todas que fazem e que também não fica muito desajustada a algumas das leis que o nosso executivo anda a implementar, par abem ou mal de nós:

"The laws are not to change the heart, but to restrain the heartless"
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Audiokollaps » terça fev 14, 2012 3:11 pm

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Mais um ex-SLN...
É assim por todos os países em crise, ex-gestores de entidades financeiras que arruinaram a economia desses países são nomeados para cargos políticos.

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » quarta fev 15, 2012 4:22 pm

Isto já nem é Salazar, que é muito progressista; é mesmo Sidónio Pais.


http://www.tvi24.iol.pt/economia/mota-s ... -1730.html
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Dustspell » quarta fev 15, 2012 5:22 pm

Grimner Escreveu:Isto já nem é Salazar, que é muito progressista; é mesmo Sidónio Pais.


Enquanto as pessoas confundirem consumo com democracia...E a niivel geral ainda vamos vêr a Europa mergulhada ainda numa maior crise , e se devendo não às possiveis revoltas civis mas sim por envolvimento económico e mais tarde politico por parte de paises externos à Europa , um dos quais e principais a China, e por motivos bem óbvios...

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » quarta fev 15, 2012 5:32 pm

http://auditoriacidada.info/article/cri ... ara-europa

Um estudo traduzido pela IAC sobre os acontecimentos na América do sul, os erros e retrocessos aí cometidos, com uma visão comparativa entre as práticas adoptadas lá e as que estão a ser implementadas cá.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » quarta fev 15, 2012 5:53 pm

Dustspell Escreveu:
Grimner Escreveu:Isto já nem é Salazar, que é muito progressista; é mesmo Sidónio Pais.


Enquanto as pessoas confundirem consumo com democracia...E a niivel geral ainda vamos vêr a Europa mergulhada ainda numa maior crise , e se devendo não às possiveis revoltas civis mas sim por envolvimento económico e mais tarde politico por parte de paises externos à Europa , um dos quais e principais a China, e por motivos bem óbvios...



Aqui e neste caso concreto é algo que é mais nefasto, a meu ver, que é a substituição de estado social por mecanismos de caridade. Que se traduzem por uma forte dependência das instituições. O que acaba por ser precisamente o contrário do empreendedorismo.

Ah, na senda de que nem é contra o interesse deste sistema aumentar o desemprego, após a aprovação de leis de mobilidade ridículas para funcionários públicos, o governo sugere como alternativa... a rescisão.

http://economico.sapo.pt/noticias/cds-a ... 38316.html

De notar, neste artigo, além do acima citado o seguinte:

O mesmo documento prevê que os trabalhadores do Estado vão ter banco de horas, tal como no privado. E o corte no valor das horas extraordinárias, que deveria vigorar apenas durante o programa da ‘troika', será definitivo.



Dá mesmo vontade de citar Noam Chamsky:

A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Dustspell » quarta fev 15, 2012 6:57 pm

Aqui e neste caso concreto é algo que é mais nefasto, a meu ver, que é a substituição de estado social por mecanismos de caridade. Que se traduzem por uma forte dependência das instituições. O que acaba por ser precisamente o contrário do empreendedorismo.


Uma grande verdade como também acontece no Rendimento Social de Inserção , quando os valores atribuidos variam entre 50 euros e 160 euros ou seja prolongar a precaridade ...

Mas também o discurso em voga é que não existe emprego e muito menos funções asseguradas , e que a direção é o "Dinamismo" , pelo o desvalorizar do próprio trabalho e do próprio operário , mas quando surgem ideias de verdadeiro dinamismo como comissões sobre produção/lucro e assim um incentivo(Uma mais valia) para o trabalhador como também maior competividade empresarial , é vê-los (Os grandes patrões industriais) a fingirem que não percebem...

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Audiokollaps » quarta fev 15, 2012 9:51 pm

"Funcionários públicos insatisfeitos podem sempre demitir-se"

O Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do CDS-PP afirmou esta quarta-feira no Fórum TSF que os funcionários públicos que não concordam com a mobilidade geográfica total que o governo pretende impor podem sempre negociar a rescisão de contrato.

"Se as pessoas [funcionários públicos] não estiverem disponíveis têm sempre como alternativa a hipótese de negociarem a sua situação contratual", afirmou João Almeida à TSF.

Para o deputado do CDS-PP, o Estado não pode "pedir aos seus contribuintes para pagarem impostos para terem funcionários públicos que não são precisos e que não estão a prestar o seu serviço".

Este dirigente do CDS-PP comentava desta forma a proposta do governo segundo a qual os funcionários públicos poderão vir a ser obrigados a mudar de serviço ou de organismo, ainda que o mesmo se situe em qualquer outra zona do país que não a sua área de residência e independentemente do valor associado às deslocações resultantes da sua recolocação.

A proposta tem vindo a obter reações muito negativas por parte dos sindicatos, ainda que a mesma só venha a ser formalmente discutida com as estruturas sindicais na próxima sexta-feira.

Ana Avoila, da Frente Comum, já veio afirmar em declarações à agência Lusa que não é admissível qualquer negociação que aponte para um recuo dos direitos dos trabalhadores do Estado.

O secretário coordenador da Frente Sindical da Administração Pública (FESAP) também já garantiu à Lusa que não vai aceitar as novas regras para a mobilidade geográfica. Os trabalhadores “não são peças ou máquinas que se transfiram de um lado para o outro”, realça Jorge Nobre dos Santos.

Esquerda.net


És funcionário Público?
És casado e com filhos?
Estás a pagar o empréstimo da casa e do carro?
Os teus filhos frequentam a escola do local de residência?
A tua mulher tem sorte e trabalha a 30 km de casa?

O estado ao abrigo do programa de mobilidade mudou o teu local de trabalho para 500 klm de distância.


Não estás satisfeito por teres que pagar mais uma renda e mais viagens e não veres os teus filhos e a tua mulher?

DEMITE-TE!

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor OrDoS » quarta fev 15, 2012 10:37 pm

Audiokollaps Escreveu:"Funcionários públicos insatisfeitos podem sempre demitir-se"

O Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do CDS-PP afirmou esta quarta-feira no Fórum TSF que os funcionários públicos que não concordam com a mobilidade geográfica total que o governo pretende impor podem sempre negociar a rescisão de contrato.

"Se as pessoas [funcionários públicos] não estiverem disponíveis têm sempre como alternativa a hipótese de negociarem a sua situação contratual", afirmou João Almeida à TSF.

Para o deputado do CDS-PP, o Estado não pode "pedir aos seus contribuintes para pagarem impostos para terem funcionários públicos que não são precisos e que não estão a prestar o seu serviço".

Este dirigente do CDS-PP comentava desta forma a proposta do governo segundo a qual os funcionários públicos poderão vir a ser obrigados a mudar de serviço ou de organismo, ainda que o mesmo se situe em qualquer outra zona do país que não a sua área de residência e independentemente do valor associado às deslocações resultantes da sua recolocação.

A proposta tem vindo a obter reações muito negativas por parte dos sindicatos, ainda que a mesma só venha a ser formalmente discutida com as estruturas sindicais na próxima sexta-feira.

Ana Avoila, da Frente Comum, já veio afirmar em declarações à agência Lusa que não é admissível qualquer negociação que aponte para um recuo dos direitos dos trabalhadores do Estado.

O secretário coordenador da Frente Sindical da Administração Pública (FESAP) também já garantiu à Lusa que não vai aceitar as novas regras para a mobilidade geográfica. Os trabalhadores “não são peças ou máquinas que se transfiram de um lado para o outro”, realça Jorge Nobre dos Santos.

Esquerda.net


És funcionário Público?
És casado e com filhos?
Estás a pagar o empréstimo da casa e do carro?
Os teus filhos frequentam a escola do local de residência?
A tua mulher tem sorte e trabalha a 30 km de casa?

O estado ao abrigo do programa de mobilidade mudou o teu local de trabalho para 500 klm de distância.


Não estás satisfeito por teres que pagar mais uma renda e mais viagens e não veres os teus filhos e a tua mulher?

DEMITE-TE!


Honestamente, esta medida preocupa-me. Para além de me poder calhar, indirectamente, esta sorte, esta poderá tornar-se daquelas medidas discriminatórias que levam a colocar qualquer pessoa "incómoda" no cu de judas só "porque sim", "porque me apetece", "porque não gosto/gostamos de ti", "porque cheiras mal", todas razões encapotadas por "temos gente a mais no serviço". Mobildade facilitada e consensual, sim, esta merda, não.

Eu até sou a favor da mobilidade, nos EUA e em muitos outros países há muita gente nesta situação e eles lá se safam pela simples razão de poderem fazê-lo. Cá não temos condições para funcionarmos neste modelo, é também um sinal de "não sabemos planear, portanto, vamos cortar movendo as pessoas como peças do jogo da glória, rodar uns dados e tal, que planear e dimensionar um serviço dá muuuuito trabalho".

A posição de FP está a tornar-se ela própria austera, não tarda os cursos vão ficar às moscas e nem os desempregados vão querer lá ser empregues, não vá o seu subsídio em Braga ser transformado numa posição no Algarve :?
From word to a word I was led to a word...
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » quarta fev 15, 2012 10:56 pm

Esta é daquelas situações do género das que já aqui falámos. Idealmente nada contra a criação de um sistema de mobilidades, mas apenas e só se esse sistema não prejudicar os funcionários. Aliás, é esse o princípio que até acaba por reger bastantes das "regalias" dos maquinistas da CP, por exemplo, que recebem compensações quando, por natureza do trabalho, não têm turnos certos e/ou não passam a noite em casa.

Aqui, a formulação da lei é claramente penalizadora. Não só dá muito pouca protecção aos funcionários, como permite o que dizes: afastar indesejados. Aliás, o grande grosso destas leis não é o de flexibilizar o que quer que seja, mas criar facilidades no despedimento.

Igualmente grave é o tom cada vez mais frequentemente usado. "Emigrem", "não sejam piegas", "Quem não está contente, que rescinda", é tudo expressões a raiar um tom de desprezo considerável e até provocatório. Se a minha opinião não fosse já a de que esta política é a de nos tentar quebrar a espinha, e mesmo que achasse algumas das posições deste governo defensáveis, não deixaria de achar esta postura claramente insultuosa para com a população portuguesa.
Eu já vi o raxx num papo seco

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