Política - Discute/Opina

[Vooder]

Sinto que aconteceu o mesmo comigo mas do outro lado.
Estou muito mais ao centro agora pois a esquerda radicalizou-se muito à conta do wokismo.
O Bill Maher explica isso muito bem .

O termo wokismo não faz sentido nenhum, é mais um termo disseminado pela (extrema) direita para atacar a esquerda que outra coisa qualquer. Só a direita é que usa esse termo.
Tudo o que cai no dito wokismo sempre foram bandeiras clássicas da esquerda, nada de novo ali.

Se a esquerda tem trazido mais esses assuntos para o debate é precisamente porque a direita, essa sim, tem vindo a radicalizar cada vez mais o discurso e as ações.

O problema é que com isso parece que a esquerda deixou para trás os problemas da maioria (salários, leis laborais, etc) para concentrar-se nas minorias, até já falei disso aqui antes se bem me lembro.
Com isso perderam muito apoio, mas parece que aprenderam a lição e as coisas estão a mudar, veremos.

Faz sentido faz.
Uma coisa é lutar pelas causas sociais e minorias, outra é impôr as causas das minorais nas maiorias, quer seja pela política do cancelamento, da novilingua ou do politicamente correcto. (suminho para a extrema direita)
Claro que faz sentido, e sim, uma das causas do declínio da esquerda é esta dar mais importância e por vezes de forma radical a essas causas (mesmo que justas), do que aos problemas da maioria da população.
Volto a repetir, o Bill Maher explica isso melhor que ninguém.

[Selvagem]

A politica de cancelamento é usada pelos dois lados dos extremos, e não concordo com nenhuma delas.

Tal como também não entendo as questões da novilingua, mas como isso não me afecta em nada passa-me ao lado.

O problema é que hoje em dia a extrema direita dispara o termo woke para tudo o que seja discurso a favor de imigrantes, direitos das mulheres e LGBT, questões ambientais, etc. Isto sim, bandeiras clássicas de esquerda, que directa ou indirectamente impactam a maioria da população.

Continuo a achar que o termo woke não faz sentido, e por muito que não goste de ser indoutrinado, se tiver de escolher prefiro levar com os chatos da extrema esquerda que com os do outro lado.

[Vooder]

Sobre os teus pontos:
A politica de cancelamento é muito mais forte à esquerda pois tem a seu lado o politicamente correcto. Posso dar aqui dezenas de exemplos Quer de pessoas quer de empresas.

A novilingua é evidente. Na minha instituição já saiu um regulamento dos termos que devem ser evitados e quais os que deverão ser usados, sob pena de processo disciplinar.

E sim, o termo "woke" está demasiado batido e serve para quase tudo, mas a essência continua. Talvez menos um pouco pela eleição de Trump, e certamente menos em Portugal do que nos EUA ou RU, pela noção que vou tendo.

Eu, como ainda me considero mais à esquerda posso garantir-te que as discussões que vou tendo nas redes sociais (evito, mas às vezes é mais forte que eu), são muito mais radicais com a malta de esquerda do que de direita.
E claro que sou apelidado de facho à minha esquerda, e de comuna à minha direita...

[Matusalem]

Hum... sobre o wokismo.... Às vezes levar as coisas a extremos ideológicos tem as suas consequências, por vezes irreparáveis.

Conhecem a marca Jaguar, de carros. Eles tinham uma determinada clientela com um determinado perfil. Clientela essa que era quem tinha o dinheiro suficiente para comprar os carros dessa marca. Ele resolveram mudar de clientela, não só na publicidade apoiante do movimento LGBT+ que revelava pessoas andrógenas e trans, como nas linhas dos modelos dos automóveis que fabricavam. E este novo alvo, esta nova "suposta" clientela não possui o dinheiro que a outra clientela (que apresentava um determinado perfil exactamente oposto ao deste novo alvo de vendas) tinha. Conclusão, as vendas este ano caíram 94%.
Eu trabalho para o ramo automóvel aqui na Alemanha e, onde eu trabalho, enviávamos diariamente 3 ou 4 camioes carregados de material para o Reino Unido com diversas peças e componentes automóveis para a Jaguar. Actualmente enviamos para aí de 15 em 15 dias um camiao e nem pela metade vai. A semana passada saiu um com 6 caixas. E temos lá mais 12 para os meados de Agosto. Ao vender 94% menos não precisa de tanta gente e muita gente vai para o meio da rua, não só na fábrica como comerciais, secretárias, etc.
De salientar ainda que isto tambem vai afectar as fábricas polacas e checas que fabricavam estes componentes, vao vender menos, não vão precisar de tanta gente e, o mais certo, é despedirem meia duzia de pessoas.
Tudo isto porque a Jaguar tem um novo CEO que mete as suas crenças ideológicas à frente dos negócios.

[Selvagem]

...

Concordo que a politica de cancelamento é mais forte à ext.esquerda, e por forte refiro-me a presença generalizada, mas por outro lado acho o cancelamento feito pela ext. direita pior por ser mais violento, no sentido lateral do termo.
Daí eu ter dito que é melhor levar com os chatos da ext.esquerda que com os outros.
E convém não esquecer que a balança muda consoante o poder vigente, nós por enquanto temos tido sorte por termos tido os centros no poder. Se virmos por exemplo a Hungria ou a Argentina (ou até mesmo os EUA desde o início deste ano) vemos o governo a tentar inverter o conceito do politicamente correcto para o outro lado, e não vejo nada de bom a vir dali.

Não tinha conhecimento da implementação das regras de linguística em empresas. E não concordo com isso.
Mas numa empresa temos de trabalhar consoante as regras que nos impõem e de acordo com a visão de quem manda. Também não concordo com isso, mas é uma realidade.
Já trabalhei em sítios em que tinha de usar as roupas e calçado que a empresa queria, noutros sitios não se pode usar telemóvel ou net mesmo que muitas vezes isso não afecte o trabalho.
Na empresa temos de "ser a empresa" infelizmente, só quando saímos é que somos nós novamente, infelizmente sei disso.
Mas também, neste caso, prefiro levar com a esquerda que com a direita - tendo em conta as noticias que têm saído nas ultimas semanas, acho bem mais grave os direitos laborais que estão a ser ponderados cortar por este governo que a questão da novilingua.

E claro que sou apelidado de facho à minha esquerda, e de comuna à minha direita...

Essa cruz todo o moderado carrega.

Eu gosto de me considerar do centro, acho que o equilíbrio está na moderação, mas sempre que vejo intervenções de direita (talvez por muita dessa direita estar cada vez mais extremada), não posso de inconscientemente inclinar-me um pouco mais para a esquerda, mesmo que não concorde com tudo da esquerda, é-me difícil encontrar algum ponto positivo à direita neste momento (e refiro-me à direita em Portugal apenas).

No fundo percebo os teus argumentos, eu próprio já estive mais zangado com a esquerda do que estou agora, mas pesando a balança volto ao mesmo argumento, nesta altura prefiro bem mais chatos de ext.esquerda que de ext.direita.

[Selvagem]

Já tinha ouvido essa história da Jaguar, não tinha ideia que tinha chegado tão longe.

Mas essa questão não foi uma medida do estado que afetasse toda a gente, foi uma acção mal calculada por parte de um privado - e mais uma vez quem mais foi afectado foram os mais pequenos e vulneráveis, os trabalhadores.

Acho mais interessante ver a culpa por este prisma que pela ligação ao movimento "woke". Tanto quanto sei ninguém o pressionou a fazer aquilo.

O CEO foi incompetente ao não ponderar os efeitos da sua acção, por muito boas que fossem as suas intenções, devia saber que o tema é polarizador e que não estava a falar ao seu público alvo, como bem referiste. E com isso foi o pequeno que se tramou.

[Kustu Rica]

Hum... sobre o wokismo.... Às vezes levar as coisas a extremos ideológicos tem as suas consequências, por vezes irreparáveis.

Conhecem a marca Jaguar, de carros. Eles tinham uma determinada clientela com um determinado perfil. Clientela essa que era quem tinha o dinheiro suficiente para comprar os carros dessa marca. Ele resolveram mudar de clientela, não só na publicidade apoiante do movimento LGBT+ que revelava pessoas andrógenas e trans, como nas linhas dos modelos dos automóveis que fabricavam. E este novo alvo, esta nova "suposta" clientela não possui o dinheiro que a outra clientela (que apresentava um determinado perfil exactamente oposto ao deste novo alvo de vendas) tinha. Conclusão, as vendas este ano caíram 94%.

Portanto a clientela antiga parecia ser "anti-woke", talvez até conservador não? Resultando num cancelamento brutal para a marca, perder 94% de vendas e ter que cortar na produção.
Também já ouvi falar que a Jaguar (pelo menos cá em Portugal) perdeu muita qualidade, principalmente esta gama de SUVs que saiu, muitos problemas mecânicos. Acredito que também tenha ajudado à quebra da quota de mercado.

[Soulforged]

Hum... sobre o wokismo.... Às vezes levar as coisas a extremos ideológicos tem as suas consequências, por vezes irreparáveis.

Conhecem a marca Jaguar, de carros. Eles tinham uma determinada clientela com um determinado perfil. Clientela essa que era quem tinha o dinheiro suficiente para comprar os carros dessa marca. Ele resolveram mudar de clientela, não só na publicidade apoiante do movimento LGBT+ que revelava pessoas andrógenas e trans, como nas linhas dos modelos dos automóveis que fabricavam. E este novo alvo, esta nova "suposta" clientela não possui o dinheiro que a outra clientela (que apresentava um determinado perfil exactamente oposto ao deste novo alvo de vendas) tinha. Conclusão, as vendas este ano caíram 94%.

Portanto a clientela antiga parecia ser "anti-woke", talvez até conservador não? Resultando num cancelamento brutal para a marca, perder 94% de vendas e ter que cortar na produção.
Também já ouvi falar que a Jaguar (pelo menos cá em Portugal) perdeu muita qualidade, principalmente esta gama de SUVs que saiu, muitos problemas mecânicos. Acredito que também tenha ajudado à quebra da quota de mercado.

Nem é tanto um problema da clientela antiga ser ou não ser "anti woke".

O problema é que eles resolveram filmar e divulgar este anuncio publicitário:



Agora diz-me o que é que neste anûncio te dá vontade de comprar um Jaguar... Ou sequer, outro carro qualquer...

O que é que o conteúdo deste anûncio tem a ver com carros? Se eu não conhecesse a marca, ficava sem saber o que raio estão eles a tentar vender.
Porque o que eles parecem estar aqui a vender é uma ideia abstrata que nada tem a ver com carros, ou sequer qualquer outro produto que possa ser vendido. Tenho a certeza que muitas das pessoas que se afastaram da marca em consequência disto, nada têm contra a comunidade lgbt, mas simplesmente viram isto, e pensaram "que merda é esta?"

Este anûncio é um dos maiores fails de sempre do mundo da publicidade, e qualquer pessoa que perceba um bocadinho do assunto, ou goste de carros, sejam eles Jaguar ou outra marca qualquer, vê isso...

[Kustu Rica]

Se esse anúncio não tivesse Jaguar escrito no final do vídeo, diria que era da Benetton ou alguma marca de roupa extravagante, o vídeo não tem nada a ver com o negócio automóvel.

Fazendo uma pesquisa no Google, há algumas causas, descontinuidade de modelos, saída do mercado de alguns países com um certo peso económico nas vendas, aposta no Land Rover.

Mas isto é a minha opinião, não que compre carros todos os dias, mas que não compro baseado em anúncios catitas, mas sim na qualidade, conforto, espaço, preço, robustez, etc.. apesar de achar que cada vez mais os carros novos não foram feitos para durar.

Parece-me rebuscado apontar a causa da queda de vendas ao vídeo, mas pronto.

[Matusalem]

O mesmo aconteceu com a cerveja Bud Light quando puseram um trans a fazer publicidade à cerveja. O publico alvo consumidor de cerveja, homem "macho" (ou que pensa que é tal), conservador, nao se reviu na publicidade e boicotou a cerveja custando milhoes de euros de prejuizo à empresa, que nos dias de hoje ainda não recuperou, apesar de já terem mudado a publicidade para uma a apelar à familia.

https://edition.cnn.com/2024/02/29/business/bud-light-boycott-ab-inbev-sales

Tu podes ser o CEO de uma empresa e estar certo e correcto na tua visão de ver o mundo, e todos os 100% dos consumidores errados nas suas opinioes e crenças (até lhes podes chamar racistas e homofóbicos e o camandro), mas no mundo dos negócios a tua opiniao vale zero. Tens que dar aos clientes o que eles querem. Seja cerveja publicitada por um homem gordo a fazer um assado com amigos, seja um carro com linhas desportivas com um homem engravatado a sair dele.

Os Jaguares que falaste foram descontinuados para darem lugar a isto. Quem é que vai comprar um carro roxo com este estilo?:

https://www.topgear.com/car-news/first-look/welcome-jaguars-future-electric-type-00-design-concept

E basta googlar Jaguar Carro - Imagens para ver como eram os Jaguares antes.

O mesmo se anda a passar na industria cinematografica com os filmes a serem flops atras de flops na bilheteira. Enfiares aquilo em que acreditas pela goela abaixo dos outros não é solução. Tem que ser devagarinho, gradual. Demora tempo? Demora, mas nunca queiras mudar o ser humano que é tradicionalmente conservador e atreito a resistir à mudança de um dia para o outro.

[Kustu Rica]

O Jaguar do link que partilhaste é um protótipo, todas as marcas o fazem e depois nunca, ou raramente, vês esses modelos na estrada. Já está confirmado que o próximo modelo da Jaguar será esse? Pelo que pesquisei a ideia é lançarem novos modelos em 2026.

Essas apresentações e anúncios (se quiserem chamem-nas de woke), foram depois da decisão de pararem a produção dos modelos actuais, focarem-se no futuro. Se não produzes não tens o que vender.

No entanto o grupo JLR teve dos melhores resultados em 2024, muito devido às vendas da Land Rover, há alguma coisa que fizeram bem para terem esses resultados, o CEO é o mesmo.

A Jaguar é para um nincho muito específico, não estou a ver um puto novo com dinheiro a comprar Jaguar, há outras marcas apelativas que a Jaguar. Na empresa onde trabalho chegaram a ter frota da Jaguar, acho que foram os Paces (eram SUVs) (para a direcção), não durou muito, de volta e meia andavam com carros de substituição, e poucos fizeram os 4 anos de leasing/renting.

Acho que só bebi uma bud light uma vez, prefiro uma Modelo, mas fico-me muito bem pela Sagres e Super Bock.
Americanos conservadores a cancelarem uma marca, mesmo sendo contra a cultura de cancelamento, enfim.

[Vooder]

Lá está, o poder do wokismo, neste caso nas empresas.
São alguns exemplos que deram, e ainda pegando na publicidade, hão-de reparar nos casais nos anúncios... Nos states então se não for assim temos logo a turba a exigir porque é que assim não é....

[Kustu Rica]

Há aí uma polémica qualquer com a Sydney Sweeney e o anúncio das calças de ganga. Há controvérsias que compreendo o serem, há outras que não.

[Vooder]

[Blackadder]

O Observador pertence à direita, muitos dos seus leitores devem vê-lo como um traidor.

Também acho que o Observador é muito mais IL do que direita conservadora/populista. Se têm puxado a brasa a essa sardinha deve ser mais para terem visualizações e, como se diz agora, tração que outra coisa. Em termos de artigos de opinião chega a ser sofrível de ler às vezes— conseguem ir buscar dos libertários mais imbecis, e até um dos tipos que esteve preso por causa do assassinato de Alcindo Monteiro lá escreveu. Mas quando se esforçam por ser minimamente isentos, ou, vá, sensatos, conseguem — porque há dinheiro — ter bons artigos, entrevistas, podcasts etc… 

Sinto que aconteceu o mesmo comigo mas do outro lado. Estou muito mais ao centro agora pois a esquerda radicalizou-se muito à conta do wokismo.

Spoiler: Mostrar

Same here. Não só pela questão do wokismo ignorante (porque as coisas que defendem, pelo menos no fundo, fazem sentido e são importantes, mas muitas vezes são tão elevadas ao expoente da estupidez que já ninguém com o cabelo da sua cor natural tem paciência para os aturar. São os hippies do séc. XXI). A teoria crítica produziu algumas ideias verdadeiramente interessantes, mas também e continua a produzir um Kilimanjaro de, como diz o Sérgio Sousa Pinto, entulho ideológico que não serve para nada.

Depois, o facto de me ter começado a interessar mais pela coisa e a ler, também me tem centrado cada vez mais mesmo em termos de política económica, filosofia e organização da sociedade. Apesar de votar à esquerda não sou, de todo, anti-privados, capitalismo com noção, mercado-livre etc…

Por falar em IL, para um partido que se dizia de direita na economia e progressista nos costumes, têm votado bastante à direita em projectos sociais e de política internacional.

Creio que da mesma forma que a ala actualmente dominante no PSD é a mais conservadora, e grunha, longe dos valores originais do partido, parece que na IL só vão ficando os idiotas que batem punhos a pensar no Millei. Não sei se é só oportunismo e estratégia (e falta de espinha dorsal) para cavalgar o momento e aproveitar a popularidade dos Chegas da vida, ou se há verdadeiramente esse tipo de ideias no partido. Dá ideia que até o Cotrim Figueiredo ja tem um pouco de vergonha alheia daquilo.

Não me revendo na filosofia da IL, acho que os poucos bons, sensatos e inteligentes que lá andam fazem falta e desempenham um papel importante na nossa democracia — prefiro, contudo, que não cheguem ao governo.