aqui fica a review a serio da passagem da bizarra locomotiva pelo plano b
por:
Pedro José Barros (rascunho.net)
http://www.rascunho.iol.pt/artigo.php?id=2965Bizarra Locomotiva deixam Plano B sem carrisÁlbum Negro atormenta cidade Invicta em noite de consoada. Doses de fúria destiladas do melhor rock industrial português, sem calendário. Só o caos.
Plano B, Porto, 25 de Dezembro de 2009
Aglomeram-se corpos erectos na escuridão do túnel. O néon vermelho abençoa a coragem das almas. Os amantes não se deixam enganar pela bola de espelhos. Não vêm pulsar em ritmo dançante, vêm desaparecer no buraco que se vai abrir sob seus pés. Em dia de aniversário de Jesus, o Plano B, no Porto, esqueceu-se de decorar a árvore. Saudou os Bizarra Locomotiva e o seu Álbum Negro e disse adeus aos carris.
«Encharcado em químicos/ Respiro a lixeira que me rodeia/ Sinto náusea do estômago à epiderme da alma/ Sou esterco metafísico/ Olho à volta/ O quadrado insulta-me deixo-me cair… bato com o esterno/ A morte é violenta». Para quem não conhece o reino onde deambulam os Bizarra Locomotiva, a letra de Angústia, uma das músicas do novo Álbum Negro, é um bom bilhete. É só ligar o leitor de CD e deixar-se hipnotizar pela tortura da gota de água. Mas por agora é tempo para outra missa: uma hora do melhor rock industrial.
Já com uma sala muito bem composta, a Locomotiva chega à estação. Dispara de uma vez cinco balas visuais: o punkish Alpha no controlo das máquinas, Rui Berton assalta a bateria na retaguarda, o alien-demoníaco Miguel Fonseca pega na guitarra, o convidado especial Carlos Santos (Assemblent) fustiga o baixo de carisma e Rui Sidónio, também ele envolto num plástico negro, destila as primeiras doses de fúria. There’s no coming back now…

Bizarra Locomotiva ao vivo no Plano B
Estrume, vulvas e gatos
A prestação inicia-se com uma das melhores faixas de Álbum Negro. A guerreira Egodescentralizado é fósforo perfeito para o melhor headbanging e revela-se demolidora ao vivo. Emerge uma certeza: os Bizarra Locomotiva não querem cumprir calendário, pretendem instalar o caos e nadar em suor, com a língua de fora. Êxtases doirados prolonga o prazer, o «egoísmo latente» roça-se «na vulva» e mais à frente recupera-se o ser mecânico em Cada homem, do disco Homem Máquina.
Ergástulo é outra nova proposta. Mais lenta, de prolongado sofrimento. «Basta! Sou estrume! Esta é a minha certeza/ fertilizante orgânico/ do mal que tudo corrompe». Rui Sidónio renuncia altiva e orgulhosamente ao purgatório e rouba-nos um sorriso. Deixamo-nos levar.
As músicas sucedem-se e a banda retira do bolso guloseimas antigas como a electrizante Druídas e a indispensável Gatos do asfalto, ao mesmo tempo que o vocalista mergulha no clã de algumas t-shirts devotas, cumprindo outro ritual. A teatralidade dos companheiros compõe um quadro futurístico-surrealista grotesco e suburbano de que é difícil fugir.
Queda de um anjo
Em contraste com a gasolina imparável da banda, o público não se mostrava muito participativo. Do frio não poderia ser. Súbitas tréguas de paz natalícias? Seja do que for, a postura voyeur sobrepôs-se ao destilar incendiário.

Rui Sidónio diante da sua plateia
Para o final estava guardado um dos momentos da noite. Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell, que participou na gravação do disco, surge no meio da audiência e sobe ao palco para participar no calvário dos Bizarra. «Reneeego, renego tudo, renego mais que tudo», declaração de princípios de Anjo exilado, soa a unhas a rasgar o cimento e os momentos derradeiros da última música da noite, o clássico O escaravelho, eram dignos de moldura, mas estranhamente não houve pedidos de encore. Os Bizarra Locomotiva são uma espécie de arco-íris exangue, de curvatura acentuada e à prova de choque.