Que já agora:
A primeira coisa de que tenho obrigatoriamente que falar é a produção. Muitos detalhes de produção parecem-me nitidamente derrubar e estragar algumas das melhores ideias do álbum. Pormenores como o de entrada na faixa inicial do álbum "In Venere Veritas" são completamente desnecessários e dão um tom "comercialóide" que estraga muita coisa. Nesta música, por exemplo, o que é feito no início e no refrão acaba por ser irritante o suficiente para afectar uma das melhores faixas do álbum.
Ainda relacionado com as opções de produção (a ênfase num aspecto ou outro também têm a ver com o produtor, claro) há que destacar o excessivo uso de sons electrónicos e sobretudo quando as guitarras também ficam para segundo plano (quando há guitarras e electrónica, a coisa não é tão má). Da mesma forma, como aconteceu no passado com o 'Deep Shadows And Brilliant Highlights', teclado a sobrepor-se às guitarras dá em... bem, em 'Screamworks...' dá em "Scared To Death".
Aliás, há demasiado teclado, é preciso dizê-lo frontalmente. Claro que ser predominante alegre e cheio de efeitos sem sentido ao invés de ser soturno e melancólico ajudam. Toda a gente que segue a banda se deverá lembrar de que os teclados em HIM são no passado memoráveis... mas era sobretudo quando soavam mais como um piano e não como plásticas incursões em terrenos Pop. Era o objectivo da banda e não funcionou pelo melhor... se calhar se ouvissem o "Too Happy To Be Alive" umas vezes podia funcionar. Mesmo quando não é um aspecto só ligado ao Pop - "In The Arms Of Rain" surge com um pendor bem Alternative - há muita, muita electrónica. O excesso não só descaracteriza a música da banda como se torna uma má ideia a partir do momento em que várias músicas têm as suas partes marcantes "sublinhadas" com os mesmos e muitas vezes só para encher... Uma música bem decente em grande parte dos momentos (com um dos melhores riffs do álbum, diga-se) é estragada com momentos quase "beatbox" perto do seu final. Falo de "Ode To Solitude" que além disso ainda padece de algumas escolhas vocais bem pirosas no final.
A previsibilidade das músicas é saturante. Será porventura o álbum de HIM em que a sensação de exploração é, em mim, mais completa após a primeira audição. Ora, isto não é lá muito bom porque tudo se esgota muito rápido. Claro que um monstro como 'Venus Doom' também não é o padrão da banda, mas a profundidade dos álbuns passados era consideravelmente maior... e mesmo quando não era assim tanto havia uma coisa que compensava: grandes músicas.
O que me leva ao próximo ponto: há falta de momentos memoráveis. O que salva o 'Deep Shadows And Brilliant Highlights' é o tremendo "Love You Like I Do", o cativante "Lose You Tonight" ou das melhores músicas intrinsecamente Pop de HIM, "Heartache Every Moment". Aqui, não há nada disto. Em virtude de ser fácil adivinhar o que se segue (e pior, como se segue), mas também porque estando tudo sempre no mesmo registo (quase sempre o mesmo tipo de riffs, variações vocais semelhantes para cada parte da música e as entradas dos teclados no começo, refrão e depois no fim), não dá para haver rasgos como antigamente. Uma música que apesar de lenta consegue ter alguma dinâmica e quebra com isto é "Acoustic Funeral (For Love In Limbo)"... que estando longe do passado brilhante de HIM neste registo, consegue sobressair precisamente porque ultrapassa a estrutura que quase todas as músicas do álbum têm e que ainda por cima não resulta. HIM, 'Venus Doom' à parte, nunca foi algo completamente fora das estruturas Rock (são poucas as excepções), mas também nunca fez um álbum com quase todas as músicas abaixo de 4m... só a "Disarm Me (With Your Loneliness)" tem uns segundos mais que isso. É bom relembrar este aspecto.
Já falei disto antes, mas repito: há sempre qualquer coisa que estraga e não deixa as músicas atingirem todo o seu potencial. O "Like St. Valentine" tem quase tudo para ser uma das melhores faixas de HIM nos últimos anos e depois tem aquele refrão meio artolas que puxa a música para níveis muito mais baixos. E como falei desta, podia falar de várias que têm boas ideias, bons riffs, o Valo a voltar a um estilo mais próximo do melhor do 'Love Metal' e depois de repente ou é um refrão demasiado meloso, efeitos electrónicos parvos ou uma simples vontade de simplificar (pois...) que deitam a coisa por terra.
O Valo tem uma performance algo inconstante. Se alguns dos momentos mais gritados remetem para o 'Love Metal' e dão uma nova perspectiva à música, alguns agudos são completamente despropositados, pois ainda por cima coincidem com os sintetizadores e enfim, o efeito não é bonito... Nada de vocais graves (o melhor trabalho de Valo é neste registo), mas a voz melódica e acolhedora continua a salvar algumas músicas da, e entristece-me dizer isto, mediocridade.
Infelizmente, também as letras são bastante simplificadas e quando não o são as metáforas por vezes caem na banalidade. É uma pena atendendo a que este aspecto é daqueles que dava como garantido que não teria grandes variações de qualidade, mas se há grandes linhas como em 'Venus Doom', também há coisas completamente básicas e sem grande interesse. Simplificação é a palavra-chave.
Baixo e bateria em destaque também é mentira... É uma pena ver um membro como o Mige subaproveitado desta forma. Lembro-me do trabalho surpreendentemente versátil do álbum passado ou aquelas belas linhas que conduziam o 'Razorblade Romance' aos seus momentos mais memoráveis e enfim... Na primeira audição dificilmente ouvi o baixo a distanciar-se da guitarra e quando o faz, é sempre muito pouco. A bateria cumpre para o álbum que decidiram fazer, mas o Gas é bem mais que um baterista de Pop/Rock banal.
Não acho que a guitarra seja tão negligenciada, nem pouco mais ou menos. No entanto, além de alguns dos riffs serem completamente arruinados pelas parvoíces mencionadas, há muitas coisas iguais no trabalho de Linde. Continuo a achar (mesmo passado três álbuns... ou se calhar até mais contando com o 'Love Metal') que a distorção característica de HIM faz muita muita falta para dar uma áurea menos Pop às músicas. Que não seja isso, seja uma distorção suja e quase Stoner como no último trabalho. Não passando totalmente ao lado do trabalho, Linde empalidece consideravelmente em relação ao que seria desejável... até para a identidade da banda.
É uma desilusão, tenho que o dizer. O segundo álbum de HIM a par com o 'DS&BH' cuja apreciação inicial é menos positiva. Neste caso penso até ser ligeiramente melhor dada a escassez de grandes momentos (se os há até é uma questão a levantar). Numa apreciação não tão comparada, é um álbum que se fica pelo decente. Talvez um pouco melhor, saindo do universo da banda (embora isso pouco interesse já que é uma abstracção impossível). A grandeza que é HIM sofre um downgrade por vários dos motivos falados e vários momentos irritantes prejudicam ainda mais o trabalho.
Quero, para terminar, destacar aqui uma faixa: "The Foreboding Sense Of Impending Happiness", a última música. Obviamente que não quero que as músicas de HIM soem todas assim... mas é uma faixa que surpreende realmente! É o rasgo de diferença. Nunca pensei que HIM fizesse uma faixa destas e mesmo não sendo o que espero da banda (e muito desiludido ficaria se a banda enveredasse por um caminho destes exclusivamente) é bom para momento experimental. O meu problema é que aqui se assume a total experimentação electrónica e não é usada apenas para dar cabo do que é bom em HIM tradicionalmente...
Provavelmente pouca gente compreenderá esta última faixa, mas acho que atingem muito mais com uma faixa directa à influência como esta do que ter um álbum onde essa influência electrónica soa vazia e sem sentido em vários momentos. O problema não é a derivação em si, mas mais o que ela representou quando conjugada com o que é o foco da banda.
Em relação ao acústico:
Não sou nada apreciador do formato acústico mas acho que aqui há a clara vantagem das características do mesmo não permitirem que pormenores de produção arruínem as músicas e isso faz crescer o trabalho instantaneamente. Há ainda uma intimidade e atmosfera que faz lembrar claramente as músicas dos primeiros álbuns no mesmo formato... diria até que nunca haviam estado tão próximos dos mesmos desde 2004 do que nalguns momentos deste 'Baudelaire In Braille'.
Não é algo do outro mundo (as minhas reservas quanto ao formato aqui são determinantes), mas o impacto das músicas é claramente mais positivo do que na sua "versão normal". Pelo menos já parece a banda que sabe fazer como ninguém músicas com um indelével toque melancólico.
Death Sailor Escreveu:Já sabia que este álbum ia ser... péssimo.
É uma bela pré-disposição para ouvir um álbum...
Death Sailor Escreveu:Deve ser um dos maiores lixos sonoros dos últimos anos, jogando na mesma liga que Tokyo Motel e semelhantes.
Normalmente levaria apenas com a piada cliché da comparação com a banda-alvo da moda mas sendo a segunda insistência no nome de Tokyo Hotel indago o porquê da associação. É que por muito original e criativa que seja a analogia com Tokyo Hotel... nada tem a ver com o álbum musicalmente. A não ser que se esteja a usar TH enquanto sinónimo de mau o que desde já acho comicamente inovador e brilhante...