Brilhando Escreveu:Grimner, disseste mesmo que és licenciado em História?
A Alemanha é contra a impressão de dinheiro porque foi isso que levou à hiperinflacção da República de Weimar (para pagar as reparações de guerra e para as reconstruções).
Quando os Estados não conseguem pagar as dívidas contraídas, a impressão monetária é o recurso mais fácil que os políticos têm para salvar a face, pois podem sempre atirar as culpas dos efeitos do excesso de dinheiro em circulação - subida desenfreada dos preços, pois a demanda pelos bens que o dinheiro pode comprar aumenta mas a oferta mantém-se - aos especuladores e a qualquer outro fantoche que toda a gente adora odiar, em vez de CORTAREM AS DESPESAS ou TAXAREM a população em 100%.
Se tanto gostas dos "direitos adquiridos" (que sao sempre direitos positivos), mete as pessoas que usufruem deles a PAGAREM DIRECTAMENTE por eles, em vez de fingires que o dinheiro vem do nada e que há almoços grátis e queres meteres os outros (os que não trabalham no Estado) a pagar por eles.
Os direitos adquiridos, caso não saibas, não são apenas e meramente os direitos de que goza a função pública. São os direitos à saúde e segurança no trabalho; são os direitos à semana de 40 Horas; são os direitos à compensação justa pelos salários ( e já agora, convém desmistificar, os subsidios de férias e natal não são "bonus" extras, o nosso sistema de pagamento é que prevê sempre uma semana a menos no salário que é depois compensada por intermédio dos subsídios. Não o modelo ideal, e por isso mesmo outros países europeus fazem as contas semanalmente, mas dizer que um subsídio é uma benesse é, pura e simplesmente, mentira); são os direitos à saúde; aos transportes; à educação. Tudo direitos que são extensíveis a toda a sociedade civil.
A Alemanha pode alegar as razões que bem entender, nada diminui o facto de que a banca, principal responsável pelo seu comportamento especulativo por esta crise, ser agora quem de longe está a beneficiar mais dela. Curiosamente, a banca Alemã, que anda a ganhar fortunas com os empréstimos que os restantes países andam a ser forçados a contrair. Inflação é obviamente má, mas pior ainda é a criação de uma dívida impagável e cada vez mais cumulativa que está a sobrecarregar os países com medidas de austeridade e a criar governos não democráticos cuja única política é a de abolir direitos para pagar juros à banca. Tão mais grave que muita dessa banca especulativa ocupa agora de facto os lugares cimeiros das instituições comunitárias e já tomam conta de pelo menos dois governos directamente.
O BCE já libertou 200 mil milhões de euros para sanar as contas europeias. Ou seja, deu moeda. Mas dá-a não directamente aos países, mas ao FMI que depois poderá emprestar aplicando, ainda e sempre taxas de juro. Essas mesmas taxas de juro que tornam a dívida impagável, aliadas à imposição de sacrifícios que seriam compreensiveis se visassem uma reestruturação ou crescimento real. No entanto, os efeitos das políticas de austeridade mostram SEM EXCEPÇÃO que todas as medidas tomadas apenas contribuiram para piorar a situação.
A minha preocupação está no facto de não só esta situação estar a criar efectivamente um cenário de ditadura efectiva, como o da actual política económica não prever nem mexer no elefante na sala: os juros da dívida perfazem, na maioria das situações, tanto quanto a dívida em si e são incomportáveis. Um buraco negro económico que se criou para cobrir gestões desastrosas, especulações financeiras, nada ou pouco disto tendo origem nas populações a quem agora lhes aparece a factura e se tenta impingir como mantra que pague por terem vivido acima das possibilidades. É uma falácia, tanto mais que continua a ignorar a completa desregulação dos "mercados" e, pior, os continua a alimentar. Uma dívida contraída nestas condições perde a sua legitimidade, tanto mais que reforça o poder de quem causou a crise, saiu incólume e agora mais lucra com a mesma. Um sacrifício sem um objectivo é pura e simplesmente um massacre. e não há objectivo ou propósito nesta política europeia, nem uma solução que estabilize a situação financeira dos governos. Apenas um reforço colossal da banca.
E não deixa de me causar estranheza que quem se indigna pela ideia de pagar pelos direitos adquiridos de funcionários públicos ou pensionistas não tenha aparentemente um pingo de indignação pela ideia de carregar o fardo da corrupção e enriquecimento ilícito de quem de facto causou esta crise.