Política - Discussão ou algo do género.

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor UtopiaIsBanished » sexta dez 23, 2011 1:59 pm

Sinceramente, culpar o 25 de Abril pelo estado de coisas é no minimo, um absurdo! E não se esqueçam que o processo revolucionário durou apenas até o dia 25 de Novembro de 1975.
Esse exemplo dos patrões serem pouco habilitados porque o 25 de Abril lhes doou um canudo qualquer é ainda mais absurdo! Se houve coisa que o 25 de Abril tentou fazer foi apostar no ensino, alem da saude, etc.
A culpa de termos patrões incompetentes deve-se ao PREC?? E já agora, não estamos a confundir quadros superiores com patrões??
E sim, temos maus patrões. Muitos. São incompetentes não sabem gerir e muitos deles são uns chicos-espertos. Outros são empreendedores, sem dúvida.
Mas também diga-se de passagem que o nosso tecido empresarial já era; A nossa frota pesqueira já era; a nossa agricultura já era, etc. E isso foi culpa principalmente do Sr Silva (como lhe chamava o JJ) que agora olha para a crise de forma sobranceira como se nada tivesse a ver com aquilo.

Outra coisa: a flexibilização do trabalho parece ser a panaceia para o governo e não só; parece que toda a gente concorda como sendo inevitável, tal como o Venom tem vindo a dizer em todos os posts.
Andou um gajo na Universidade a tirar um curso de Gestão de Recursos Humanos a ouvir dizer que o capital humano é a coisa mais importante que existe em qualquer organização, que deve ter condições, que deve estar motivado e a aprender técnicas para o fazer, etc., para virem agora dizer que afinal trabalhador competitivo é aquele que ganha uma côdea ao fim do mês, aquele a quem lhes baixam o salário (algo inédito, que nem o Salazar, que eu saiba, o mandou fazer), aqueles que em vez do clássico chicote nas costas, têm a ameaça diária de despedimento, os recibos verdes e a precaridade.
E isto não são "tretas marxistas", meus senhores. Nem coisa que o valha, é apenas gestão, baseada em estudos de ciencias sociais com o objectivo, NÃO de proteger o trabalhador, mas sim de o fazer produzir mais! Apenas isso! Aliás é um curso tipicamente orientado para o patronato.
Atá o Bagão Félix, que de marxista não tem mesmo nada (!) veio dizer publicamente que se devia ter muito cuidado com este investimento na precaridade de emprego porque achava que ia dar azo a muitos aproveitamos por parte do Patronato.
O que me leva de volta aos patrões:
1º, qd os patrões acham que só através da precaridade é que conseguem ter bons resultados, é porque são incompetentes! Não sabem gerir, nem querem saber! Não há coisa pior para uma empresa que um ambiente de ansiedade para saber quem é o próximo a ser despedido. O trabalho quebra, a motivação quebra, etc. Quem acha que um trabalhador é motivado pelo medo está completamente enganado.
Vamos assistir, como é obvio, à crescente classe dos trabalhadores graxistas que se apunhalam uns aos outros e competem a ver quem beija melhor o cu ao patrão.
2º, eu quero ver, qd os patrões tiverem então todas as condiçôes, o que é que vai mudar. É que hoje em dia o trabalho já é mal pago, já se oferece 600€ a um cargo superior, cujas funções obriguem a ter um curso superior, portanto. Isto na montra do Centro de Emprego! Os salários baixaram, os despedimentos estão extremamente facilitados, as indeminizações são uma côdea (e Venom, faz lá as contas como de ser, não faço ideia como chegaste aquelas conclusões), etc.
3º, Os sindicatos têm cada vez menos poder reinvidicativo, as pessoas têm medo de aderir à greve e, além disso, temos uma sociedade que é tudo menos solidária. Socialmente, os portugueses são egoístas. Por isso temos tanta falta de civismo. Os patrões e o governo estão conscientes disso.
4º, o que falta?? Legalizar o trabalho infantil e passar a reforma para os 80 anos?

Mais: os direitos que nos tiraram em meia duzia de meses, custaram muitos anos de sangue, suor, lágrimas e muitos sacrificios pessoais para serem conseguidos! E toda a gente sabe que irá custar outro tanto para serem restaurados.

Não acredito que qualquer político que seja que estivesse lá agora tivesse grande escolha.


Alguém viu o governo a cortar na despesa? Em deixar de comprar carros de luxo num país de pobres? Alguém viu o governo preocupado em taxar a banca? em taxar devidamente o Capital? Em deixar de financiar as fundações dos amigos?
Não, quem nada teve a ver com isso é que, mais uma vez, tem que pagar a crise, tem que pagar a factura. E isso é inevitável? Que sentido de justiça é esse?
E acham que a solução está em tratar um trabalhador, não com a dignidade que merece, não como um humano que produz e tem direitos, e tem vida, e tem familia, e tem sonhos e aspirações, não como uma Pessoa, mas como uma peça de uma máquina ou de um mobiliário que deva ser descartável se necessário, não estamos apenas a retroceder em termos de Gestão de RH, mas sim em termos de Humanidade.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor UtopiaIsBanished » sexta dez 23, 2011 2:19 pm

E por falar em retrocessos na Humanidade, mas estes com outros pretextos:

http://www.sott.net/articles/show/23916 ... We-Know-It

Pelo menos ainda bem que não estamos a debater estas eliminações de direitos no nosso país!
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Venøm » sexta dez 23, 2011 3:15 pm

Repara, Utopia, que só utilizei a referência dos canudos "oferecidos" como um exemplo de algo que aconteceu no passado, porque de facto, como disseste seria ridículo sumarizar todos os problemas do patronato português numa generalização tão absurda como essa. Quero que se entenda que foi apenas um pequeno exemplo e não um apontar de dedo generalizado.

No entanto, o que propões que se faça relativamente ao tecido empresarial Português?
É que de facto, tens de ver que medidas radicais e o facto das finanças lhes caírem ainda mais em cima vai levar de arrastão as tais empresas honestas, muitas delas em formação. Já para não falar que dos anos 90 para cá, devido aos sistemas informáticos é bastante mais rápido localizar uma empresa que esteja a fugir ao fisco do que era há 10 anos antes dessa data.

Só para teres uma ideia, só agora é que se estão a descobrir a sério as empresas que se plantaram cá nos anos 80/90 que se fartaram de roubar e que, quando dada a ordem para as finanças actuarem (não sei como se chama o processo), na morada da empresa não existe absolutamente nada e os milhões roubados já estão bem longe. Limitavam-se a enviar as folhas do pessoal, mas não pagavam. São as tais empresas fantasmas que aqui andavam. Hoje já se detecta um "roubo" desses em muito menos tempo do que os largos anos, ou pelo menos, há menos desculpas para não serem detectadas.

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » sexta dez 23, 2011 3:52 pm

UtopiaIsBanished Escreveu:E por falar em retrocessos na Humanidade, mas estes com outros pretextos:

http://www.sott.net/articles/show/23916 ... We-Know-It

Pelo menos ainda bem que não estamos a debater estas eliminações de direitos no nosso país!



Por enquanto.


Mas para já, impõem-se mais 23 dias de trabalho GRATUITO aos portugueses. E a nossa ditadura não vem com tanques ou alarido semelhante, mas vem chegando.
Eu já vi o raxx num papo seco
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor JVELHAGUARDA » sexta dez 23, 2011 5:13 pm

Conselho de Directores:
Pedro Santos Guerreiro, director do “Jornal de Negócios”;
Henrique Monteiro, director editorial do grupo Impresa;
Graça Franco, directora de Informação do grupo Renascença.
http://rr.sapo.pt/informacao_prog_detal ... &did=43884

Uma das propostas em cima da mesa, pelo Sindicato dos Maquinistas, para desconvocar a greve, era arquivar os processos disciplinares instaurados a 200 maquinistas, por, entre outros motivos, não terem cumprido os serviços mínimos decretados em greves anteriores e por não terem comparecido no seu local habitual de trabalho.
Se os serviços mínimos não são cumpridos, alguém tem de ser responsável, a greve é um direito mas, abusar desse direito, já é pouco justificável.
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Int ... t_id=37003
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interi ... id=1866573

Em vez de vender participações em empresas lucrativas, edp, pt, etc, bom era vender as que acumulam prejuízo, rtp, cp, tap entre outras.

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Dustspell » sexta dez 23, 2011 5:41 pm

Quando se troca Politicos por tecnocratas só se pode contrair um défice humano...Só quero saber quem daqui a 10 anos vai limpar as misérias...Mas felizmente vamos vencer o défice financeiro... :mrgreen:

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Dustspell » sexta dez 23, 2011 5:43 pm

Grimner Escreveu:
UtopiaIsBanished Escreveu:E por falar em retrocessos na Humanidade, mas estes com outros pretextos:

http://www.sott.net/articles/show/23916 ... We-Know-It

Pelo menos ainda bem que não estamos a debater estas eliminações de direitos no nosso país!



Por enquanto.


Mas para já, impõem-se mais 23 dias de trabalho GRATUITO aos portugueses. E a nossa ditadura não vem com tanques ou alarido semelhante, mas vem chegando.


Mas tal facto já acontecia antes , somente com a diferença que agora é tido como legal...

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor aftermath » sexta dez 23, 2011 7:10 pm

" ... I once said, greed is good, now it seems it´s legal!"

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I tremble as I wait perhaps to sin
Yield unto temptation and be ruler of the world
And all I do is let the beast come in"
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor otnemeM » sexta dez 23, 2011 8:22 pm

JVELHAGUARDA Escreveu:Uma das propostas em cima da mesa, pelo Sindicato dos Maquinistas, para desconvocar a greve, era arquivar os processos disciplinares instaurados a 200 maquinistas, por, entre outros motivos, não terem cumprido os serviços mínimos decretados em greves anteriores e por não terem comparecido no seu local habitual de trabalho.
Se os serviços mínimos não são cumpridos, alguém tem de ser responsável, a greve é um direito mas, abusar desse direito, já é pouco justificável.
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Int ... t_id=37003
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interi ... id=1866573

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor HFVM » sábado dez 24, 2011 12:28 pm

Gostei de ver o Rangel a dar a ideia de se criar uma agência ou algo do género para apoiar a emigração. Emigrar como ele é fácil. De 8 em 8 dias ou de 15 em 15 dias vem cá. Assim também quero emigrar.

E a estratégia de começar a limpar funcionários públicos convidando-os a ir para "longe" e sem qualquer subsidio de alojamento e transporte (ao contrário dos nossos governantes) fazendo-os assim sair também não me parece a melhor dado que as pessoas merecem algum respeito.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Audiokollaps » domingo dez 25, 2011 11:49 am

Para o Venom e o seu modelo favorito (trabalho barato e sem regalias):

China: Exército ataca operários em revolta

Habitantes de Wukan emitem pedidos de ajuda online, temendo “ser todos mortos em breve”. As autoridades ordenaram o bloqueio aos alimentos e, no domingo, ninguém pode entrar ou sair. Por Giampaolo Visetti, La Repubblica

A crise da Europa e dos EUA também contagia a China, abalada pelos ventos de revolta mais forte dos últimos 20 anos. Há semanas, as regiões industriais da costa são atingidas por ondas de greves, milhões de operários perdem seus postos de trabalho, e milhares de empresas, minadas pela queda das exportações, fracassam e fecham.

Pela primeira vez, o “modelo China”, baseado na produção de baixo custo destinada ao exterior, mostra os seus limites: o crescimento desacelera, e o governo de Pequim teme que o vírus da instabilidade da zona euro se espalhe pelo Oriente.

Símbolo das revoltas que sacodem a segunda potência económica do mundo é o povoado de Wukan, no condado de Shanwei, coração do riquíssimo Guangdong.

Há cinco dias, os 20 mil habitantes da cidade, divididos entre pesca, agricultura e indústria, estão sob o cerco do Exército. Para reprimir a revolta, que começou em setembro, as autoridades ordenaram o bloqueio aos alimentos e, no domingo, ninguém pode entrar ou sair. Mil agentes circundam a região e contínuos confrontos armados com a população ameaçam degenerar num dramático conflito.

Postos de bloqueio e de censura impedem a entrada em Wukan. Os habitantes que conseguiram fugir através dos campos, testemunham os ataques das forças armadas de Pequim, que também atacam mulheres e crianças com canhões de água e gás lacrimogéneo. São dezenas de feridos, enquanto 13 líderes da revolta foram capturados e presos.

O que fez explodir a raiva popular foi a morte na prisão do chefe dos insurgentes, Xue Jinbo, de 43 anos. Segundo a polícia, tratou-se de uma paragem cardíaca súbita. Os familiares, aos quais o corpo não foi devolvido, descrevem, pelo contrário, um corpo torturado pelos espancamentos e pelas queimaduras. Pela primeira vez desde os dias do massacre da Praça Tiananmen, imagens captadas por telemóvel mostram uma multidão enfurecida que exibe faixas que invocam “o fim da ditadura” e a “morte dos funcionários comunistas corruptos”.

Jornais e canais de TV do Estado ignoram a revolta de Wukan, enquanto os filtros do governo não conseguem bloquear as denúncias e os pedidos de ajuda online dos habitantes, que temem “ser todos mortos em breve”. Autoridades, funcionários locais do partido e ricos empresários fugiram, e reina a anarquia na cidade.

Wukan foi eleita como símbolo do perigoso mal-estar que percorre a China devido às razões da revolta. A população rebelou-se contra as últimas expropriações forçadas de terra, executadas pelos dirigentes comunistas para favorecer grandes empresas imobiliárias privadas. Em poucas semanas, e com preços irrisórios, mais da metade do território do município foi subtraído dos habitantes e transformado de agrícola em edificável. Até hoje, o povo de Wukan, região rica graças à pesca, não se oporia à venda dos velhos arrozais.

Agora, no entanto, a poluição e a exploração de rios e mar não permitem mais que se viva, e os produtos das fazendas voltam a ser essenciais. Graças à tragédia da ex-rica Wukan, obrigada a rebelar contra a corrupção para não morrer de fome, a China descobre a mistura explosiva de esgotamento dos recursos naturais, degeneração do poder e fracasso de um modelo de desenvolvimento que está a semear instabilidade em todo o país.

Para os líderes de Pequim, reunidos em conclave por três dias para aprovar um megaplano anticrise para 2012, Wukan é o primeiro sinal de alerta de uma situação quase fora de controle. Há quatro meses, uma pequena localidade da região mais industrializada do planeta consegue não se deixar curvar pela repressão, e centenas de outros municípios e cidades estão a seguir o exemplo da sua resistência contra os abusos, enquanto os territórios do Tibete histórico também estão em agitação por causa do sacrifício dos monges que se ateiam fogo para denunciar a colonização chinesa.

Partido e governo estão comprometidos com a mudança de poder, da qual surgirá a classe dirigente dos próximos dez anos. Eles não podem permitir-se um banho de sangue, mas nem uma prova de incapacidade para manter a ordem. Por isso, do resultado do cerco de Wukan depende o destino da China e também o da Europa.


As coisas funcionam assim, num sistema laboral sem protecção e regalias para trabalhadores, mão de obra barata e dispensável (a chamada mobilidade), são carne para canhão!

Um modelo a seguir!

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Venøm » domingo dez 25, 2011 2:55 pm

Audiokollaps Escreveu:Para o Venom e o seu modelo favorito (trabalho barato e sem regalias).

Olha que a leitura é uma coisa que se faz em linha recta, da esquerda para a direita. Quando chegas ao fim da frase há mais texto em baixo ou logo à frente do ponto final. Caso não haja mais texto a frente, muda-se para a linha debaixo e seguem-se as mesmas regras. Não tem nada que saber.

É que eu não disse nada disso, amigo. :wink:

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » segunda dez 26, 2011 5:08 pm

Entrevista de Éric Toussaint, do Comité de Anulação da Dívida do Terceiro Mundo.

Para sair da crise, é preciso "romper com a troika" e obrigá-la a "renegociar a dívida"

Éric Toussaint não está optimista, mas tem uma visão diferente da actual crise e do que fazer para sair dela.

O politólogo e professor universitário belga esteve recentemente em Lisboa para ajudar a lançar a Iniciativa por uma Auditoria Cidadã à Dívida Pública. Experiência não lhe falta.

É presidente do Comité para Anulação da Dívida do Terceiro Mundo e fez parte da equipa que realizou, entre 2007 e 2008, a auditoria sobre a origem e destino da dívida pública do Equador, ao serviço do novo Governo de esquerda do país, num processo que levou ao julgamento de vários responsáveis políticos e à decisão unilateral de não pagar parte da dívida equatoriana. Acredita que o mesmo pode acontecer na Europa. Mas isso implica romper com as exigências da troika.

Depois das decisões que saíram da última cimeira europeia, acha que a crise da dívida está próxima do fim?
Esta é uma crise que vai durar 10 ou 15 anos, porque o problema fundamental não é a dívida pública, mas sim os bancos europeus. E não estou a falar dos pequenos bancos portugueses ou gregos. O problema é que os grandes bancos – Deutsche Bank, BNP Paribas, Credit Agricole, Société Generale, Commerzbank, Intesa Sanpaolo, Santander, BBVA – estão à beira do precipício. Isso é muito pouco visível no discurso oficial. Só se fala da crise soberana, quando o problema é a crise privada dos bancos.

Está a referir-se à exposição dos bancos à dívida pública de alguns países do euro?
Não, não é a exposição à dívida soberana, mas sim a derivados tóxicos do subprime [crédito de alto risco]. Está a ocultar-se que todo o conjunto de derivados adquiridos entre 2004 e 2008 continuam nas contas dos bancos, porque são contratos a 5, 10 ou 15 anos. Somente quando o contrato chegar ao fim é que se vai descobrir a amplitude da toxicidade e das perdas, visto que as contas actuais dos bancos mostram esses derivados avaliados, não ao valor de mercado, mas ao valor facial, do contrato. Foram, aliás, esses problemas com os activos tóxicos que geraram os da dívida soberana. Em 2008, quando os bancos deixaram de conceder crédito entre si, o investimento mais seguro era comprar títulos da dívida soberana e os mais rentáveis eram da Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália. Então, os bancos compraram muitos títulos para substituir os derivados que tinham. Agora, têm os dois, porque não conseguiram desfazer-se dos primeiros. Mas é totalmente falso dizer que o problema actual é a dívida soberana. É a soma dos dois.

Há, contudo, uma crise da dívida, que obrigou a Grécia, Portugal e a Irlanda a pedir ajuda. Como é que avalia a resposta que foi dada para estes países com os planos da troika?
Esses planos vão piorar a situação desses países, isso é absolutamente claro. A redução maciça das despesas públicas e do poder de compra da maioria da população vai diminuir a procura e as receitas fiscais e provocar ainda mais necessidade de o país se endividar para pagar a dívida. Tanto a política da troika na Grécia, Irlanda e Portugal, como a política da Comissão Europeia e dos países do Centro, como a Alemanha e a França, vai provocar mais recessão. A própria Alemanha vai ter problemas, porque precisa de ter quem compre os seus produtos.

Qual seria a solução? Uma reestruturação da dívida?
Em Portugal a reestruturação está muito na moda, mas não gosto dessa palavra. Na história da dívida, a reestruturação corresponde a uma operação totalmente controlada pelos credores. Quando o devedor quer tomar a iniciativa, tem de suspender os pagamentos da dívida, para obrigar os credores a sentarem-se à mesa e discutir condições. Uma reestruturação é o que a troika vai fazer na Grécia, impondo um corte de 50% na dívida dos bancos privados, em troca de mais austeridade no país. Contudo, sem redução da dívida à troika, que se tornou o maior credor da Grécia e, ainda por cima, privilegiado, este tipo de reestruturação só alivia de maneira conjuntural o pagamento da dívida. Não é uma solução de verdade.

Que solução seria essa?
Sei que esta ideia está fora do debate público, mas, para mim, se um país quiser sair desta crise, tem de romper com a troika. Tem de dizer: senhores, as condições que nos impõem são injustas e não nos servem a nível económico.

Mas se Portugal ou outro país disser isso, não terá de sair da zona euro?
Não acho que seja automático, mas é claro que é complicado. A Alemanha beneficia com o euro, pelas suas exportações e inclusive pelos empréstimos a Portugal. Quando vai financiar-se ao mercado, a Alemanha paga 1%, mas empresta a Portugal a 5%. Não é generosidade, é um bom negócio para a Alemanha. O que Portugal precisa é de uma política soberana em que o Estado declarasse não querer sair da zona euro, mas dissesse que as condições impostas pela troika são inaceitáveis para os cidadãos e para o interesse do país. Caso contrário, a troika só fará mais exigências, que não permitirão ao país sair da situação em que se encontra. Se Portugal disser não à troika, esta seria obrigada a sentar-se à mesa e renegociar a dívida e as condições que impõe. E não me parece que a troika queira a saída de um país do euro.

Como se insere neste processo a auditoria à dívida pública?
A auditoria é um processo promovido sobretudo por cidadãos para romper o tabu da dívida soberana, que nunca se discute nem se analisa. Até pode ser má, mas há que pagá-la, porque uma dívida paga-se sempre, quando, na realidade, tanto ao nível de um particular, de uma empresa ou de um Estado, uma dívida ilegítima, ilegal ou imoral é uma dívida nula. E há toda uma vasta história de anulação e suspensão dessa dívida.

O que é uma dívida ilegítima?
A ilegitimidade é um conceito cuja definição não se encontra no dicionário. É a forma como os cidadãos interpretam, de forma rigorosa, o respeito aos princípios da nação, da construção do país e do direito interno e internacional. Uma dívida ilegítima é, por exemplo, uma dívida contraída porque o Estado favoreceu uma pequena minoria, reduzindo impostos sobre as grandes empresas multinacionais ou as famílias mais ricas, que assim diminuíram a sua contribuição para as receitas fiscais, obrigando o Estado a endividar-se. Esta contra-reforma fiscal aconteceu em toda a Europa e também nos EUA, com o anterior presidente, George W. Bush. Os resgates aos bancos são outro exemplo. O custo de ajudar os banqueiros, que foram totalmente aventureiros, desviando os depósitos dos seus clientes para investir no subprime, implicou um aumento da dívida soberana, que é totalmente ilegítimo. Não podiam ter sido resgatados dessa forma, os grandes accionistas não deviam ter sido indemnizados.

A dívida à troika também é ilegítima?
Sim. Foi uma dívida contraída para impor um desrespeito aos direitos económicos e sociais da população. Há uma chantagem da troika, que dá crédito para pagar aos credores, que são eles próprios e os bancos dos países do Centro europeu, e, em contrapartida, exige austeridade. Não há dúvida: é uma dívida ilegítima.

Organizou uma auditoria à dívida do Equador... O que Portugal poderia retirar desse exemplo?
É uma situação diferente. No Equador, o novo presidente tinha sido eleito com o mandato de fazer uma auditoria da dívida pública, de modo a definir que parte era ilegítima e não seria paga.

Vê possibilidade de isso acontecer na Europa?
Com uma mudança de Governo, sim. Não pode ser um Governo que defende os acordos com a troika a fazer uma auditoria à dívida. O descontentamento das populações pode abrir caminho a isso, mas não sei quando é que uma mudança desse tipo pode ocorrer na Europa. Os latino-americanos viveram 15 a 20 anos de neoliberalismo e de aceitação do pagamento da dívida soberana. Espero que não demoremos 20 anos na Europa.



http://economia.publico.pt/Noticia/para ... a-1526489#
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Dustspell » segunda dez 26, 2011 5:28 pm

Audiokollaps Escreveu:Para o Venom e o seu modelo favorito (trabalho barato e sem regalias):

China: Exército ataca operários em revolta

Habitantes de Wukan emitem pedidos de ajuda online, temendo “ser todos mortos em breve”. As autoridades ordenaram o bloqueio aos alimentos e, no domingo, ninguém pode entrar ou sair. Por Giampaolo Visetti, La Repubblica

A crise da Europa e dos EUA também contagia a China, abalada pelos ventos de revolta mais forte dos últimos 20 anos. Há semanas, as regiões industriais da costa são atingidas por ondas de greves, milhões de operários perdem seus postos de trabalho, e milhares de empresas, minadas pela queda das exportações, fracassam e fecham.

Pela primeira vez, o “modelo China”, baseado na produção de baixo custo destinada ao exterior, mostra os seus limites: o crescimento desacelera, e o governo de Pequim teme que o vírus da instabilidade da zona euro se espalhe pelo Oriente.

Símbolo das revoltas que sacodem a segunda potência económica do mundo é o povoado de Wukan, no condado de Shanwei, coração do riquíssimo Guangdong.

Há cinco dias, os 20 mil habitantes da cidade, divididos entre pesca, agricultura e indústria, estão sob o cerco do Exército. Para reprimir a revolta, que começou em setembro, as autoridades ordenaram o bloqueio aos alimentos e, no domingo, ninguém pode entrar ou sair. Mil agentes circundam a região e contínuos confrontos armados com a população ameaçam degenerar num dramático conflito.

Postos de bloqueio e de censura impedem a entrada em Wukan. Os habitantes que conseguiram fugir através dos campos, testemunham os ataques das forças armadas de Pequim, que também atacam mulheres e crianças com canhões de água e gás lacrimogéneo. São dezenas de feridos, enquanto 13 líderes da revolta foram capturados e presos.

O que fez explodir a raiva popular foi a morte na prisão do chefe dos insurgentes, Xue Jinbo, de 43 anos. Segundo a polícia, tratou-se de uma paragem cardíaca súbita. Os familiares, aos quais o corpo não foi devolvido, descrevem, pelo contrário, um corpo torturado pelos espancamentos e pelas queimaduras. Pela primeira vez desde os dias do massacre da Praça Tiananmen, imagens captadas por telemóvel mostram uma multidão enfurecida que exibe faixas que invocam “o fim da ditadura” e a “morte dos funcionários comunistas corruptos”.

Jornais e canais de TV do Estado ignoram a revolta de Wukan, enquanto os filtros do governo não conseguem bloquear as denúncias e os pedidos de ajuda online dos habitantes, que temem “ser todos mortos em breve”. Autoridades, funcionários locais do partido e ricos empresários fugiram, e reina a anarquia na cidade.

Wukan foi eleita como símbolo do perigoso mal-estar que percorre a China devido às razões da revolta. A população rebelou-se contra as últimas expropriações forçadas de terra, executadas pelos dirigentes comunistas para favorecer grandes empresas imobiliárias privadas. Em poucas semanas, e com preços irrisórios, mais da metade do território do município foi subtraído dos habitantes e transformado de agrícola em edificável. Até hoje, o povo de Wukan, região rica graças à pesca, não se oporia à venda dos velhos arrozais.

Agora, no entanto, a poluição e a exploração de rios e mar não permitem mais que se viva, e os produtos das fazendas voltam a ser essenciais. Graças à tragédia da ex-rica Wukan, obrigada a rebelar contra a corrupção para não morrer de fome, a China descobre a mistura explosiva de esgotamento dos recursos naturais, degeneração do poder e fracasso de um modelo de desenvolvimento que está a semear instabilidade em todo o país.

Para os líderes de Pequim, reunidos em conclave por três dias para aprovar um megaplano anticrise para 2012, Wukan é o primeiro sinal de alerta de uma situação quase fora de controle. Há quatro meses, uma pequena localidade da região mais industrializada do planeta consegue não se deixar curvar pela repressão, e centenas de outros municípios e cidades estão a seguir o exemplo da sua resistência contra os abusos, enquanto os territórios do Tibete histórico também estão em agitação por causa do sacrifício dos monges que se ateiam fogo para denunciar a colonização chinesa.

Partido e governo estão comprometidos com a mudança de poder, da qual surgirá a classe dirigente dos próximos dez anos. Eles não podem permitir-se um banho de sangue, mas nem uma prova de incapacidade para manter a ordem. Por isso, do resultado do cerco de Wukan depende o destino da China e também o da Europa.


As coisas funcionam assim, num sistema laboral sem protecção e regalias para trabalhadores, mão de obra barata e dispensável (a chamada mobilidade), são carne para canhão!

Um modelo a seguir!


Junta a isso a empresa que comprou parte da EDP , que já tem em seu curriculo algumas violações de direitos , como desapropriações,...

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spiegelman
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Mensagempor spiegelman » segunda dez 26, 2011 7:32 pm

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