Política - Discussão ou algo do género.

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OrDoS
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor OrDoS » quinta abr 19, 2012 2:29 pm

Grimner Escreveu: Se se admitisse por parte de quem ocupa o espaço que a cedência era temporária, perder-se-ia qualquer tipo de capacidade de argumentação numa acção de despejo futura. E há princípios jurídicos que defendem a utilização ( com reaproveitamento) dos espaços públicos. Chama-se Usucapião. Assinar um tal contrato anulava qualquer reivindicação a esse direito.



Grimner, o Usucapião presume que tu ocupas o espaço para uma determinada utilização específica, de forma aberta (o que aconteceu) e pacífica (permissiva, o que não aconteceu na realidade, pois a Câmara, detentora da propriedade, apesar de não a utilizar, não deu permissão oficial de uso e requereu agora o seu direito). Compreendo os pressupostos pelos quais eles (os "ocupas" e não Okupas ;) ) não assinaram o contrato, mas não assinando, terão de se submeter à vontade do dono da propriedade, até porque eles não estão há mais de 10 anos a usufruir do espaço (penso que seja esse o intervalo temporal legal desde a ocupação até à intenção de posse).

De certa forma, o que tu invocas por Usucapião é (+/-) o que o Estado quer fazer com os terrenos isolados e abandonados há mais de 10 anos pelos donos, para os dar aos jovens agricultores para explorarem (o que na prática, é uma simples expropriação).

Neste caso, a Câmara já tinha dito que não permitia a ocupação legal sem um contrato, mas não os impediu de ocupar o espaço. Se a Câmara quiser tirar uso dela, tem o direito de expulsar as pessoas que lá estão. Se o deve fazer, neste caso específico, isso é outra questão.

Agora, imagina que és tu o dono da escola, és tu que estás em conflito com os "ocupas" e queres agora o edifício de volta.

O que eu acho é que devia haver uma lei que nestes casos permitisse a desocupação, mas em caso de o proprietário não iniciar ocupação ou obra sobre esse imóvel nos 4-6 meses seguintes à desocupação, poderia ser o alvo dos antigos ocupantes que aí sim, reclamariam o Usucapião. Mas isto sou eu a delirar :mrgreen:
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » quinta abr 19, 2012 2:35 pm

Brunhu Escreveu:
Grimner Escreveu:
Spoiler: Mostrar
Brunhu Escreveu:São okupas... Foda-se, de coitadinhos têm muito pouco.
Aqui em Setúbal temos uma comunidade deles... muito bonzinhos, ocupam espaços (ilegalmente), organizam eventos (ilegalmente) e o forte deles é manifestarem-se a foder tudo (o que é dos outro, sim, porque o espaço que não é deles é intocável). Deram-se ao luxo de pintar a fachada toda dos paços de concelho uma semana depois de terem destruído o pavimento da Praça do Bocage para plantar uma árvore como protesto a uma merda qualquer que não lhes agradava...


Não fazem mal a ninguém como podem ver:

Não estou aqui a defender Okupas. Aliás, tenho enormes reservas quanto à utilização do termo neste caso. Agora, tens alguma noção do projecto que estava a ser desenvolvido na Fontinha e as diferenças entre essas actividades e as realizadas pelo projecto Es.Col.A, em colaboração com a população do bairro?

Por alguma razão a população estava ao lado dos ditos "ocupas" nos confrontos.

Em setúbal também estavam no lado dos okupas, tal como podes ver no vídeo... os outros fodem tudo mas aos policias é se chama de "Filhos da Puta" entre outros nome bonitos.

Não estou a par do projecto e nem vale a pena estar para opinar. A partir do momento que tudo está ilegal, a situação só tem que ser resolvida.
A única questão aqui é a forma como está a ser feita. Dúvido que os policia tenham chegado lá e tenham desatado a dar porrada... o okupa é, por natureza, provocador e muito agressivo, porque é que não se põe em causa quem começou com os confrontos?

Quanto a isto:
O problema não está na renda simbólica. Está no facto de que, aceitando esse contrato, aceitavam e legitimavam que o termo da ocupação do espaço fosse a 31 de Junho e concordavam com a perda de direito ao espaço depois dessa data.

A partir do momento que o espaço não é deles e foi ocupado sem autorização, muita sorte têm eles em ainda lhes darem uma opção. A mim, tal como a ti e aos restantes não perdoam nada... e somos contribuintes. Porque é que ser hão-de dar condições especiais a gajos desses??

Agora lá vai haver outra campanha contra os polícias.... com os vídeos que só mostram o que dá jeito.



Brunhu, o que afirmas é de uma ignorância brutal, para dizer o mínimo... dizer "o okupa é por natureza".... mas estás a falar para a National geographic, ou estamos a falar de pessoas, diferentes entre si e com projectos distintos?

No caso deste projecto, conta com a participação de educadores, professores, gente com casa própria. Aliás, e é bom frisar, isto nunca foi espaço de habitação. Ocupou-se e recuperou-se uma escola abandonada numa zona degradada do Porto, e instituiu-se ATL que incluiam acompanhamento aos estudos e explicações, aulas de musica, capoeira, ou pintura, e criaram-se espaços como uma biblioteca. As actividades eram decididas em conjunto com a população local, em assembleia. O processo é de tal forma transparente que existe um blogue do projecto com actas de todas as reuniões e decisões tomadas. Tudo isto é a perfeita antítese do Okupa arruaceiro que mencionas.

O que se deixa aqui à consideração é precisamente isso e tem TUDO a ver com o trabalho desenvolvido pelo projecto. A partir de um edificício degradado e abandonado, criou-se essencialmente um centro social de apoio num bairro carenciado, auto financiado, que integra socialmente crianças carenciadas e em risco, para além de ser um excelente exemplo de cidadania activa. E a escolha é fechar violentamente esse projecto, que ao fim e ao cabo, fazia o trabalho que a Camâra não faz?


Quanto à reacção da população face ao despejo, nada como esta citação de uma reportagem feita há uma semana ao espaço e aos moradores:


José Lino é morador da Fontinha e defende que aquilo que se passa no bairro é um espelho daquilo que está a acontecer no centro da cidade, onde os jovens estão a ser expulsos e apenas ficaram os velhos. “Se for a uma bancada do estádio das Antas é difícil encontrar habitantes do centro da cidade. São todos dos arredores.” O projecto foi para ele uma autêntica revolução. Afirma que as pessoas mais velhas foram ganhas pela Es.col.a. “Os mais novos aderiram antes, as pessoas de idade foram ganhas pelas actividades e pelo facto de isto dar mais segurança à zona. Isto antes era um espaço degradado.” Viu morrer muitas colectividades no centro do Porto. As pessoas deixaram de acreditar nas coisas. Teme que quando a câmara despejar a Es.col.a “as pessoas mais uma vez vão comer e calar”, murmura, resignado.


http://www.ionline.pt/portugal/anarquis ... acao-porto


É elementar que as pessoas defendam um espaço e um projecto que lhes diga alguma coisa. Aliás, tendo em conta as realidades recentes, espanta-me menos a contestação e a resistência do que me tem espantado a passividade geral.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » quinta abr 19, 2012 3:15 pm

OrDoS Escreveu:
Grimner Escreveu: Se se admitisse por parte de quem ocupa o espaço que a cedência era temporária, perder-se-ia qualquer tipo de capacidade de argumentação numa acção de despejo futura. E há princípios jurídicos que defendem a utilização ( com reaproveitamento) dos espaços públicos. Chama-se Usucapião. Assinar um tal contrato anulava qualquer reivindicação a esse direito.



Grimner, o Usucapião presume que tu ocupas o espaço para uma determinada utilização específica, de forma aberta (o que aconteceu) e pacífica (permissiva, o que não aconteceu na realidade, pois a Câmara, detentora da propriedade, apesar de não a utilizar, não deu permissão oficial de uso e requereu agora o seu direito). Compreendo os pressupostos pelos quais eles (os "ocupas" e não Okupas ;) ) não assinaram o contrato, mas não assinando, terão de se submeter à vontade do dono da propriedade, até porque eles não estão há mais de 10 anos a usufruir do espaço (penso que seja esse o intervalo temporal legal desde a ocupação até à intenção de posse).

De certa forma, o que tu invocas por Usucapião é (+/-) o que o Estado quer fazer com os terrenos isolados e abandonados há mais de 10 anos pelos donos, para os dar aos jovens agricultores para explorarem (o que na prática, é uma simples expropriação).

Neste caso, a Câmara já tinha dito que não permitia a ocupação legal sem um contrato, mas não os impediu de ocupar o espaço. Se a Câmara quiser tirar uso dela, tem o direito de expulsar as pessoas que lá estão. Se o deve fazer, neste caso específico, isso é outra questão.

Agora, imagina que és tu o dono da escola, és tu que estás em conflito com os "ocupas" e queres agora o edifício de volta.

O que eu acho é que devia haver uma lei que nestes casos permitisse a desocupação, mas em caso de o proprietário não iniciar ocupação ou obra sobre esse imóvel nos 4-6 meses seguintes à desocupação, poderia ser o alvo dos antigos ocupantes que aí sim, reclamariam o Usucapião. Mas isto sou eu a delirar :mrgreen:



Falo do Usucapião por uma questão do princípio mais que da sua aplicabilidade. Por uma questão de prazos, é evidente que o argumento não existe. A formulação da lei está de ordem tal que o espaço de tempo que deve passar até os ocupantes terem direito efectivo ao espaço vulnerabiliza um projecto como este.

Agora é-me evidente, e daí ter-me dado ao trabalho de contrapor ponto a ponto os argumentos do comunicado da CMP, que há intransigência por parte da mesma. Fala-se de um projecto de recuperação do espaço que está em estudo, e dura anos para estar em estudo, e que possivelmente vai dinamizar o local bem menos que o que existe agora. Mas aí já contam outros interesses. Que não os do prejuizo, que, diga-se, a única forma de prejuizo que vejo num projecto destes são as despesas correntes, e isso facilmente se resolvia se houvesse vontade política. Que não há. Vai-se retirar um projecto que é, a todos os níveis, benéfico para a comunidade (até mesmo pela promoção da sua intervenção activa, o que é muito positivo num bairro com os problemas como a Fontinha) para se colocar um vazio, algo que está em estudo há anos, isto feito com um autoritarismo completamente absurdo.

E quanto ao teu delírio, concordo, e aparentemente até há uma disposição legal sobre isso:

Decreto-Lei n.º 280/2007 de 7 de Agosto

SUBSECÇÃO I
Uso comum
Artigo 25.º Uso comum ordinário
1. Os bens do domínio público podem ser fruídos por todos mediante condições de acesso e de uso não arbitrárias ou discriminatórias, salvo quando da sua natureza resulte o contrário.
2. O uso comum ordinário dos imóveis do domínio público é gratuito, salvo disposição em contrário nos casos em que o aproveitamento seja divisível e proporcione vantagem especial.



E não esquecer que espaços camarários são propriedade pública, "teoricamente" falando.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » quinta abr 19, 2012 3:38 pm

Já agora, um exemplo de uma das actas:

http://escoladafontinha.blogspot.pt/201 ... bleia.html


Esta última assembleia serviu como um ponto de situação do projeto e teve bastante participação da comunidade, contrariamente ao que se tinha registado nas assembleias anteriores. Começou-se por enumerar as atividades que correram bem ao longo dos meses, e as potencialidades deste espaço físico para vários projectos. Foi apontada a necessidade de falar sobre os aspetos negativos para se poder melhorar o funcionamento do projeto.

Entre os aspetos mais negativos do processo, focou-se a falta de participação nas Assembleias (por vezes reduzida a 8-10 elementos), a diminuição do número de pessoas que ajudam a dinamizar o espaço e do mau ambiente criado por conflitos pessoais que desgastaram as relações na comunidade Es.Col.A. (...)


Foi apontado o facto das aulas de Pilates para seniores nunca terem chegado a acontecer, causando transtornos a alguns vizinhos que se dirigiram ao Es.Col.A para participar nessa atividade programada. Este incumprimento por parte da proponente da atividade afeta o colectivo, o respeito dos outros pelo coletivo Es.Col.A e a imagem que os vizinhos têm deste. É necessário haver responsabilidade individual para haver confiança em novas propostas.


(...)

O grupo de reconhecimento e levantamento de necessidades do bairro não tem estado a funcionar: é necessário reformular este grupo para se perceber se estamos a responder às necessidades das pessoas do bairro, podendo o grupo servir para estender a ideia da auto-gestão com que se gera o Es.Col.A para fora dos seus portões, tentando estar atento ao que se passa no bairro, apoiando a população para esta ser ouvida no que toca a decisões que vão alterar o funcionamento do bairro ou a arquitectura deste. Reconheceu-se que não basta bater porta-a-porta e perguntar aos moradores o que eles necessitam, pois nem todas as pessoas se sentem "à vontade" para falar abertamente num primeiro contacto.



Aulas de Pilates.


Oh, a subversão do sistema...
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Brunhu » quinta abr 19, 2012 4:23 pm

Grimner Escreveu:Brunhu, o que afirmas é de uma ignorância brutal, para dizer o mínimo... dizer "o okupa é por natureza".... mas estás a falar para a National geographic, ou estamos a falar de pessoas, diferentes entre si e com projectos distintos?

No caso deste projecto, conta com a participação de educadores, professores, gente com casa própria. Aliás, e é bom frisar, isto nunca foi espaço de habitação. Ocupou-se e recuperou-se uma escola abandonada numa zona degradada do Porto, e instituiu-se ATL que incluiam acompanhamento aos estudos e explicações, aulas de musica, capoeira, ou pintura, e criaram-se espaços como uma biblioteca. As actividades eram decididas em conjunto com a população local, em assembleia. O processo é de tal forma transparente que existe um blogue do projecto com actas de todas as reuniões e decisões tomadas. Tudo isto é a perfeita antítese do Okupa arruaceiro que mencionas.

O que se deixa aqui à consideração é precisamente isso e tem TUDO a ver com o trabalho desenvolvido pelo projecto. A partir de um edificício degradado e abandonado, criou-se essencialmente um centro social de apoio num bairro carenciado, auto financiado, que integra socialmente crianças carenciadas e em risco, para além de ser um excelente exemplo de cidadania activa. E a escolha é fechar violentamente esse projecto, que ao fim e ao cabo, fazia o trabalho que a Camâra não faz?


Quanto à reacção da população face ao despejo, nada como esta citação de uma reportagem feita há uma semana ao espaço e aos moradores:

José Lino é morador da Fontinha e defende que aquilo que se passa no bairro é um espelho daquilo que está a acontecer no centro da cidade, onde os jovens estão a ser expulsos e apenas ficaram os velhos. “Se for a uma bancada do estádio das Antas é difícil encontrar habitantes do centro da cidade. São todos dos arredores.” O projecto foi para ele uma autêntica revolução. Afirma que as pessoas mais velhas foram ganhas pela Es.col.a. “Os mais novos aderiram antes, as pessoas de idade foram ganhas pelas actividades e pelo facto de isto dar mais segurança à zona. Isto antes era um espaço degradado.” Viu morrer muitas colectividades no centro do Porto. As pessoas deixaram de acreditar nas coisas. Teme que quando a câmara despejar a Es.col.a “as pessoas mais uma vez vão comer e calar”, murmura, resignado.


http://www.ionline.pt/portugal/anarquis ... acao-porto


É elementar que as pessoas defendam um espaço e um projecto que lhes diga alguma coisa. Aliás, tendo em conta as realidades recentes, espanta-me menos a contestação e a resistência do que me tem espantado a passividade geral. .

Vou então manter-me na ignorância e ignorar a tua primeira parte do post.

O Projecto, resumido como o fizeste, é sem dúvida de louvar.


Estes meninos são dos bonzinhos e até têm apoio de profissionais e afins. Boa…. Então e a parte legal da coisa? Escrevem actas e fazem assembleias e tudo.. espetáculo, e:

Têm licenciamento das instalações?

Têm actividade registada daquilo?

Estão a funcionar de acordo com a exigências muito apertadas da Segurança Social?

Segurança, está de acordo com a legislação?

Se houver merda lá dentro como é, há alguém que se responsabiliza?… Há, a autarquia será responsabilizada por “pactuar” com essa “instituição”.

Podia-se solucionar as coisas exigindo a actualização/licenciamento de tudo isso… mas aquela gente quer isso? Querem pagar e bem, e esperar e bem para ter tudo a funcionar legalmente?
É que a mim e ti obrigante a fazer isto tudo caso queira avançar com um projecto destes.
É tudo muito bonito quando não há merda.. o problema é que às vezes as merdas acontecem!

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Old_Skull » quinta abr 19, 2012 4:33 pm

Brunhu Escreveu:Se houver merda lá dentro como é, há alguém que se responsabiliza?… Há, a autarquia será responsabilizada por “pactuar” com essa “instituição”.


Naquela (e em outras tantas zonas) Merda é coisa que não falta dentro e fora de paredes. Estranhamente, esse facto parece incomodar a classe política apenas sazonalmente com um periodicidade aproximada de 4 anos!


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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » quinta abr 19, 2012 5:34 pm

Brunhu Escreveu:
Grimner Escreveu:Brunhu, o que afirmas é de uma ignorância brutal, para dizer o mínimo... dizer "o okupa é por natureza".... mas estás a falar para a National geographic, ou estamos a falar de pessoas, diferentes entre si e com projectos distintos?

No caso deste projecto, conta com a participação de educadores, professores, gente com casa própria. Aliás, e é bom frisar, isto nunca foi espaço de habitação. Ocupou-se e recuperou-se uma escola abandonada numa zona degradada do Porto, e instituiu-se ATL que incluiam acompanhamento aos estudos e explicações, aulas de musica, capoeira, ou pintura, e criaram-se espaços como uma biblioteca. As actividades eram decididas em conjunto com a população local, em assembleia. O processo é de tal forma transparente que existe um blogue do projecto com actas de todas as reuniões e decisões tomadas. Tudo isto é a perfeita antítese do Okupa arruaceiro que mencionas.

O que se deixa aqui à consideração é precisamente isso e tem TUDO a ver com o trabalho desenvolvido pelo projecto. A partir de um edificício degradado e abandonado, criou-se essencialmente um centro social de apoio num bairro carenciado, auto financiado, que integra socialmente crianças carenciadas e em risco, para além de ser um excelente exemplo de cidadania activa. E a escolha é fechar violentamente esse projecto, que ao fim e ao cabo, fazia o trabalho que a Camâra não faz?


Quanto à reacção da população face ao despejo, nada como esta citação de uma reportagem feita há uma semana ao espaço e aos moradores:

José Lino é morador da Fontinha e defende que aquilo que se passa no bairro é um espelho daquilo que está a acontecer no centro da cidade, onde os jovens estão a ser expulsos e apenas ficaram os velhos. “Se for a uma bancada do estádio das Antas é difícil encontrar habitantes do centro da cidade. São todos dos arredores.” O projecto foi para ele uma autêntica revolução. Afirma que as pessoas mais velhas foram ganhas pela Es.col.a. “Os mais novos aderiram antes, as pessoas de idade foram ganhas pelas actividades e pelo facto de isto dar mais segurança à zona. Isto antes era um espaço degradado.” Viu morrer muitas colectividades no centro do Porto. As pessoas deixaram de acreditar nas coisas. Teme que quando a câmara despejar a Es.col.a “as pessoas mais uma vez vão comer e calar”, murmura, resignado.


http://www.ionline.pt/portugal/anarquis ... acao-porto


É elementar que as pessoas defendam um espaço e um projecto que lhes diga alguma coisa. Aliás, tendo em conta as realidades recentes, espanta-me menos a contestação e a resistência do que me tem espantado a passividade geral. .

Vou então manter-me na ignorância e ignorar a tua primeira parte do post.

O Projecto, resumido como o fizeste, é sem dúvida de louvar.


Estes meninos são dos bonzinhos e até têm apoio de profissionais e afins. Boa…. Então e a parte legal da coisa? Escrevem actas e fazem assembleias e tudo.. espetáculo, e:

Têm licenciamento das instalações?

Têm actividade registada daquilo?

Estão a funcionar de acordo com a exigências muito apertadas da Segurança Social?

Segurança, está de acordo com a legislação?

Se houver merda lá dentro como é, há alguém que se responsabiliza?… Há, a autarquia será responsabilizada por “pactuar” com essa “instituição”.

Podia-se solucionar as coisas exigindo a actualização/licenciamento de tudo isso… mas aquela gente quer isso? Querem pagar e bem, e esperar e bem para ter tudo a funcionar legalmente?
É que a mim e ti obrigante a fazer isto tudo caso queira avançar com um projecto destes.
É tudo muito bonito quando não há merda.. o problema é que às vezes as merdas acontecem!


Pequeno aparte, por ignorância entende-se desconhecimento de causa de um determinado assunto. Sendo que desconhecias o teor do projecto, é uma palavra aplicável. Mais grave pareceu-me a afirmação de "não conheço nem quero conhecer, isso são todos iguais". O que é, e vou repetir a palavra, tão ignorante quanto reduzir, sei lá, os adeptos do Sporting aos neonazis da Juve ( ou até mesmo reduzir a Juve aos neo nazis da mesma).

O erro é compreensível porque a comunicação social adora simplificar, mas ocupação de um terreno ou espaço não equivale a okupas, e mesmo os okupas não equivalem ao Black Bloc.

Feito esse esclarecimento, o projecto tem licenciamento ( registaram-se como organização, sendo que Es.Col.A é precisamente o acrónimo de Espaço Colectivo Autogestionado, o grupo que foi registado para que pudessem permanecer em funcionamento durante todo o ano passado. Tiveram autorização até para funcionar, com os resultados que mencionei, durante todo este ano. Ou seja, nada do que fizeram foi considerado ilegal ou perigoso durante todo este tempo, e a única coisa que de repente mudou foi a câmara dizer, "queremos o espaço". O que francamente torna todas as outras questões irrelevantes, porque a única questão de vulto é mesmo, para que é que o querem. Durante o ano que deixou o espaço a funcionar tais considerações como a segurança não se colocaram. E francamente, merda pode acontecer até numa escola do estado, e frequentemente acontece. Quanto à existência dos restantes entraves, talvez seja de pensar na sua utilidade real, tendo em conta os resultados práticos.

Que estão à vista; o projecto tem sido largamente positivo, e feito, com poucos recursos, aquilo que competia à Camâra fazer ( reabilitar um bairro degradado) e não o faz. Há lições a tirar de experiências deste tipo que provam o que é capaz de se fazer com pouquissimos recursos, com mais alcance e impacto e envolvimento da comunidade que campanhas zerodesperdicio ou outras que tais. Cedência do espaço, uma vez que se trata de um projecto sem fins lucrativos, e tudo o resto poderia funcionar numa situação de compromisso que, contas feitas, custaria à Câmara bem perto de nada. Que não será certamente o valor de qualquer tentativa de recuperação que o Rui Rio tenha em mente...

Torna-se assim uma situação do mais básico bom senso, se o interesse fosse realmente a melhoria das condições de vida das populações, em procurar formas de colaborar ou coexistir com um projecto destes, e os seus perigosos instrutores de Ioga e Pilates.Que de repente, depois de um ano de permissão, passam de repente a perigosos "ocupantes abusivos" quando se decide desalojar esse projecto. Então, já passam a Okupas, quanto mais anarcas melhor ( e muitos dos que lá trabalham não são, de todo, anarquistas, apenas acreditam no projecto) e toca a vilanizar pessoas que num ano conseguiram resultados reais num bairro dos mais problemáticos do Porto, bem como o respeito e o acolhimento dos locais.

Porque afinal, expulsa-se esta gente de lá para fazer o quê? Qual o projecto alternativo que Rui Rio tem afinal para a recuperação da Fontinha? Qual será o custo?


Algo está mal nesta imagem, mas não é de certeza os que foram agora expulsos.
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Sir Sardine » quinta abr 19, 2012 5:42 pm


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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » quinta abr 19, 2012 5:54 pm

Nem queria entrar nos detalhes da acção policial em si, mas... a resistência dos manifestantes durante a manhã, nota-se, foi claramente sentar-se e pouco mais.

E, segundo denuncia da da Associação Nacional dos Bombeiros Profissionais, porque raio foram despachados 11 bombeiros para acompanhar a polícia, com ordens expressas para irem não identificáveis e de cara tapada?


http://www.publico.pt/Local/camara-envi ... ao_1542749
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor OrDoS » quinta abr 19, 2012 6:01 pm

Grimner Escreveu:Nem queria entrar nos detalhes da acção policial em si, mas... a resistência dos manifestantes durante a manhã, nota-se, foi claramente sentar-se e pouco mais.

E, segundo denuncia da da Associação Nacional dos Bombeiros Profissionais, porque raio foram despachados 11 bombeiros para acompanhar a polícia, com ordens expressas para irem não identificáveis e de cara tapada?


http://www.publico.pt/Local/camara-envi ... ao_1542749


Para o caso de haver imolações? E para o caso de não os confundirem com o corpo de intervenção? :P
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » quinta abr 19, 2012 6:02 pm

OrDoS Escreveu:
Grimner Escreveu:Nem queria entrar nos detalhes da acção policial em si, mas... a resistência dos manifestantes durante a manhã, nota-se, foi claramente sentar-se e pouco mais.

E, segundo denuncia da da Associação Nacional dos Bombeiros Profissionais, porque raio foram despachados 11 bombeiros para acompanhar a polícia, com ordens expressas para irem não identificáveis e de cara tapada?


http://www.publico.pt/Local/camara-envi ... ao_1542749


Para o caso de haver imolações? E para o caso de não os confundirem com o corpo de intervenção? :P



Houve uma tentativa de imolação, por acaso...:|

Por um morador. Acho que o projecto até é capaz de lhes dizer qualquer coisa. Só naquela.


Mas para esse fim, ao menos levassem extintores... :P
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Mak » quinta abr 19, 2012 6:34 pm

Grimner Escreveu:Nem queria entrar nos detalhes da acção policial em si, mas... a resistência dos manifestantes durante a manhã, nota-se, foi claramente sentar-se e pouco mais.


Não sendo apologista de violência (policial ou da outra parte), pergunto-te de que modo poderia a PSP (enviada por patentes superiores, por sua vez contactados por elementos superiores a si... ou há dúvida?) fazer cumprir UMA ORDEM?!

E não retirando o valor às pessoas que pegaram no espaço - e não conhecendo a estória TODA - se as mesmas ocupam o espaço, acham inadequado que a CMP venha pedir algo em troca?

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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Venøm » quinta abr 19, 2012 6:36 pm

A PSP pouco pode fazer para além de cumprir as ordens que lhes dão e calar. Quem é responsável são os senhores vereadores que lhes dão a ordem de "tirem esses drogados nojentos daí a paulada que não negociamos com a plebe".

Os tais "ocupas mal cheirosos e drogados" da escola da fontinha eram pessoas como tu e eu que de tudo fizeram para ter ali um espaço e conseguir pelo menos o aluguer desse mesmo.

Negociaram e negociaram com a camera, formaram a associação conforme lhes disseram para fazer caso quisessem oficializar o espaço, visto a escola não ser de particulares e a camera disse-lhes um sim e eles agiram segundo todas as regras. Daí para a frente fizeram ouvidos moucos, eles assinaram o contrato com a camera e 5 meses depois recebem ordem de despejo de uma camera que de repente ficou incomunicavel durante esse espaço de tempo. Ora, vão-se foder.

Absolutamente repugnante.

Se as pessoas não fossem tão pacatas isto merecia uma intervenção à camera de igual modo. Tirava-os todos de lá a paulada e a penicada e nada de valor se perdia.

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Mak
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Mak » quinta abr 19, 2012 6:42 pm

Venøm Escreveu:Os tais "ocupas mal cheirosos e drogados" da escola da fontinha eram pessoas como tu e eu que de tudo fizeram para ter ali um espaço e conseguir pelo menos o aluguer desse mesmo.


Era para mim? É que não me viste tratá-los por 'ocupas mal cheirosos e drogados' :wink:

E quanto a um 'ataque' à CâmAra, concordo ahah o RR sim, é um malcheiroso :mrgreen:

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Grimner
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Re: Política - Discussão ou algo do género.

Mensagempor Grimner » quinta abr 19, 2012 6:46 pm

Mak Escreveu:
Grimner Escreveu:Nem queria entrar nos detalhes da acção policial em si, mas... a resistência dos manifestantes durante a manhã, nota-se, foi claramente sentar-se e pouco mais.


Não sendo apologista de violência (policial ou da outra parte), pergunto-te de que modo poderia a PSP (enviada por patentes superiores, por sua vez contactados por elementos superiores a si... ou há dúvida?) fazer cumprir UMA ORDEM?!

E não retirando o valor às pessoas que pegaram no espaço - e não conhecendo a estória TODA - se as mesmas ocupam o espaço, acham inadequado que a CMP venha pedir algo em troca?



A polícia faz o que lhe compete. Neste caso, como em tantos outros, o problema não são OS polícias enquanto individuos ( admitindo que alguns sejam umas bestas tremendas, outros mais há que não são, mas têm ordens), mas sim A polícia, ou quem lhes dá as ordens. Quando se fala contra a polícia, é essencialmente a quem dá as ordens, porque não acredito que as pessoas se infiltrem sem ordens de cima. Aliás, e pegando na greve do mês passado, os próprios polícias foram críticos da polícia. Que seguiram ordens, mas que questionaram a necessidade das mesmas, porque sabem que podiam ter resolvido os desacatos doutro modo.

Já quando ao que a Câmara ganha... bem, pode não estar a receber renda, mas tem não sei quantas pessoas a revitalizar um bairro degradado com actividades para miudos e idosos, gente que não leva um tusto pelo seu trabalho.

Diria que a Câmara recebe algo em troca com isso e só teria a ganhar.
Eu já vi o raxx num papo seco

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