Nada mais nada menos que este senhor:

Al Di Meola, a abrir, dia 02.
O programa do Jazz'n Gaia melhora de ano para ano e torna-se cada vez mais difícil para quem quer escolher apenas uma das noites. E o "problema" agrava-se a 2, 3 e 4 de Abril próximo com seis concertos imperdíveis e de uma oferta crescentemente heterogénea.
Um dos reis da guitarra a nível mundial (Al Di Meola), a rainha do tropicalismo mais ligada a Portu(Gal Costa) e o maior grupo vocal de jazz de sempre (The Manhattan Transfer) são os cabeças-de-cartaz da edição deste ano do "Jazz 'n Gaia - Festival Internacional de Jazz de Gaia". Mas apoiam-se noutros tantos nomes de ouro do jazz português com dimensão mundial: António Pinho Vargas, Joel Xavier e Carlos Bica. A terceira edição do evento aprofunda, por isso, o carácter de abertura do jazz aos mais variados estilos e gostos, que tem sido um dos objectivos deste festival.
Pinho Vargas e Al Di Meola
A abertura marca o regresso a Gaia de um dos seus (muitos) filhos ilustres, pois o primeiro a pisar o palco do Teatro d'Avenida é António Pinho Vargas, «um dos compositores e músicos mais importantes do Portugal pós-25 de Abril», como foi recentemente descrito por Boaventura de Sousa Santos. O concerto insere-se na promoção do seu mais recente disco - "Solo" - que é também o regresso aos terrenos do jazz após 12 anos, desta vez com piano solo.
Autor de livros sobre música e doutorando em Sociologia da Cultura, Pinho Vargas é licenciado em História e diplomado em Composição pelo Conservatório de Roterdão, leccionando esta cadeira na Escola Superior de Música. O também comendador da Ordem do Infante D. Henrique estudou ainda Composição com Emmanuel Nunes, John Cage, Louis Andriessen, Gyorgy Ligeti e Franco Donatoni. Já tocou com a sua banda em diferentes continentes e compõe para cinema (João Botelho e José Fonseca e Costa) e teatro (Carlos Avillez).
É, assim, um erudito que antecede o chamado "cigano distinto" Al Di Meola (alcunha derivada do nome do seu segundo álbum, "Elegant Gypsy", de 1977), norte-americano descendente de imigrantes italianos. Celebrizado pela guitarra e cujos primeiros passos discográficos o levaram pelo latino flamenco ao jazz de fusão, Di Meola tocou nas bandas de Miles Davis e de Chic Corea e ainda com o baixista Stanley Clarke, o violinista Jean-Luc Ponty e os também guitarristas John McLaughlin e Paco de Lucía, tendo ganho por quatro vezes o título de Melhor Guitarrista de Jazz da revista "Guitar Player". As influências latinas permanecem e contribuem também para o seu êxito entre nós, chegando a Gaia ?armado? não só com a guitarra mas com «o melhor grupo de músicos até agora na minha carreira», como o próprio designa o seu novo quarteto New World Sinfonia.
O acordeonista Fausto Beccalossi, o guitarrista italiano Peo Alfonsi e o baterista cubano Gumbi Ortiz são os parceiros preciosos da nova viagem em quarteto, mais uma vez e declaradamente influenciada pelo contacto directo com o mestre do tango Astor Piazzolla.
Fado e tropicalismo
No segundo dia, o festival começa também ao som da guitarra de raiz latina e dimensão mundial, mas desta vez com sotaque nacional: Joel Xavier.
Estamos perante o melhor guitarrista português de 2006 (já tinha sido um dos cinco melhores dos EUA em 1994), que começou a estudar guitarra aos 15 anos como autodidacta e gravou o primeiro disco aos 17, com a BMG.
O Festival Internacional de Jazz de Havana em 2000, onde tocou ao lado de nomes míticos a convite de Chucho Valdés, foi apenas um dos eventos de grande prestígio em que participou. E integrou o Trio Acústico de Richard Galliano com Jean Phillipe Viret. Tudo antes de completar 30 anos.
Elogiado pelas lendas vivas Toots Thielemans e Ron Carter (o melhor contrabaixista de jazz de todos os tempos, com quem gravou em 2004), o músico português afasta-se agora um pouco das raízes do fado e casa o jazz com os sons afro-brasileiros em "Saravá", o seu oitavo disco, com lançamento em Fevereiro. É uma homenagem ao Brasil e mesmo a propósito do segundo concerto da noite, pois Joel Xavier cederá o palco à diva Gal Costa. Depois de Ivan Lins no ano passado, chega desta vez uma das mais sérias candidatas a figurar na história como a maior cantora brasileira de sempre.
A baiana Gal não se resume porém a MPB (e já não seria pouco...). É mais Bossa Tropical e ainda há dois anos e pouco fez uma temporada no templo novaiorquino Blue Note, onde também gravou, pelo que vamos ter oportunidade de (re)descobrir a outra faceta de uma grande artista. Mas "Baby" de Caetano Veloso, o seu primeiro grande sucesso a solo (já lá vão 40 anos), poderá voltar a ouvir-se em Gaia...
Do contrabaixo às "melhores vozes do mundo"
Na terceira noite, a programação começa novamente com um lusitano de reflexos internacionais, o contrabaixista e compositor Carlos Bica.
Com influências de diferentes universos, da música erudita contemporânea ao folk, ao rock, ao jazz e às músicas improvisadas, Bica é já uma referência do jazz europeu. Envolveu-se em diversos projectos, destacando-se o seu Trio Azul cujo primeiro disco foi logo considerado em 1996 uma das melhores edições nacionais de jazz de sempre. "Twist" (1999), "Look what they've done to my song" (2003) e "Believer" (2006) foram igualmente muito bem recebidos, nomeadamente a nível internacional.
Mas Bica vem a Gaia com o projecto Matéria Prima, um quinteto onde o seu contrabaixo defronta o piano de João Paulo (Esteves da Silva), a guitarra de Mário Delgado, a bateria de João Lobo e o trompete de Matthias Schriefl, todos estes músicos com grande rodagem aquém e além-fronteiras.
Refira-se que Carlos Bica tocou durante anos com Maria João, artista que inaugurou o Jazz'n Gaia em 2007, além de outros portugueses, e participou em inúmeros festivais de jazz internacionais em colaboração com músicos como Kenny Wheeler, Ray Anderson, Aki Takase, Alexander von Schlippenbach, Lee Konitz, Mário Laginha, Albert Mangelsdorf, João Paulo, Matthias Schubert, Paolo Fresu, António Pinho Vargas, Steve Arguelles ou John Ruocco.
O 3º Festival Internacional de Jazz de Gaia termina com a estrondosa e contagiante presença de um quarteto cujas vozes já arrecadaram cerca de uma dúzia de Grammy's: The Manhattan Transfer.
Após uma digressão de Inverno pela Europa, iniciada no The Blue Note Jazz Club de Milão, chega a vez de Gaia vibrar com os intérpretes de "Birdland", "Operator" e "Route 66", entre tantos e tantos êxitos acumulados ao longo de 35 anos de carreira que parece ter ainda muito para dar. É ouvir!
Organização: Pelouro da Cultura/Património e Turismo de Vila Nova de Gaia/ Municipio de Vila Nova de Gaia
in http://www.cm-gaia.pt/gaia/portal/user/ ... 80CO&nl=pt
Aínda não há preços definidos, penso eu. Quanto às horas, segundo o mesmo site, começa às 21h45.