Vooder Escreveu:aetheria Escreveu:E já que estão com os temas fraturantes, como definem "assédio"?
Por acaso é um tema que me está a interessar bastante.
Não falando no teu caso, mas por acaso era interessante saber a tua perspectiva enquanto mulher.
É que um gajo agora para mandar um piropo arrisca-se a ter que ir a um notário primeiro.
Não tenho a perspectiva feminina, mas lá está, sem ser publicamente (tal como a questão do racismo), a realidade é outra coisa. Basta ir ao Instagram...
Lembram-se do "é proibido proibir"?... a minha posição vai um bocadinho por aí, alicerçada no conceito de liberdade existencialista e recuando até Santo Agostinho (perdoem-me se isto soa pretensioso, mas não me posso sentir mal por procurar ir mais fundo nas "opiniões" que defendo). Explico-me: os existencialistas defendiam que "estamos sós num universo sem Deus", ou seja, somos livres, o que acarreta uma responsabilidade individual gigantesca, total. Santo Agostinho dizia "ama e faz o que quiseres"... o que pode sugerir um "ah grande orgia! vai ser só o que EU quero e como eu quero!", o que não é o caso: amar, no seu sentido mais puro e substantivo, leva a que o eu nunca se sobreponha ao outro. Daí a liberalidade da frase do santo.
Dito isto, sendo eu uma acérrima defensora da liberdade, custa-me ver a perseguição inquisitorial e indiscriminada que hoje em dia se faz em praça pública a propósito de tudo e, a maior partes das vezes, sem conhecimento dos fundamentos. O "assédio" é um ato imoral, violenta o outro e sustenta-se numa posição de força. Um piropo de rua não é assédio. Pode importunar e, nesse sentido, "violentar", seja o homem seja a mulher. Mas é ocasional e, se for mal-educado, fica com quem o pronuncia. Tal como chamar "filho da puta" a alguém na estrada, ou paneleiro, whatever. A visão de que, sendo de cariz sexual, "oh morcona comia-te o sufixo!" (sim, tinha que escolher um piropo gramatical

Quando em Hollywood falam de assédio (no caso, sexual), eu depreendo que todos os casos tenham a ver com a posição de poder que alguém ocupa, valendo-se dessa posição para tentar conseguir favores sexuais. E suponho que não se estão a referir a piropos. E aqui, além de imoral, é criminoso, a meu ver. Porque um ator precisa de trabalhar e deve ser escolhido pelo seu talento, não porque abriu as pernas ou deu o cu. Tal como em meio laboral, uma pessoa não pode correr o risco de perder o emprego por ter um empregador que o/a ameaça de despedimento caso não ceda aos seus apetites sexuais.
Finalizando, a tua pergunta, Vooder, já encerra uma vertente interessante desta questão... e lá vamos nós para a questão cultural/histórica.
Por que razão, e falo nos dias de HOJE (historicamente já conhecemos bem o filme), ainda se centra esta questão na "perspetiva feminina"? Porque, culturalmente, apesar de estarmos numa sociedade dita culturalmente evoluída, ainda se assume a ideia da posição de poder do homem (porque o assédio tem a ver com poder, lembrem-se): assim, na rua, numa discoteca, com colegas de trabalho, o homem manda o piropo e faz sentido (para quem assim pensa) que a mulher se sinta ameaçada. Verdade? daí quererem até criminalizar os piropos...
Pessoalmente, eu não me sinto ameaçada pelos piropos. Se tiverem bom gosto até me divertem e é muito natural que me inspirem resposta
